O que fazer quando oramos por paz e não temos resposta
Certa vez, uma querida amiga me disse o seguinte (com a permissão dela, compartilho):
“Tantas vezes ouvimos dizer que Cristo pode trazer cura e paz. Eu passei por episódios devastadores de depressão severa e ansiedade incontrolável, e eventualmente consegui me curar em grande parte deles, especialmente da depressão. Mas ainda sofro com ansiedade, e a tenho desde muito jovem. Faço tudo ‘certo’. Vou à igreja, oro, etc. Busco toda a ajuda possível, terapia, medicamentos, já tentei praticamente de tudo, mas ela ainda está lá e dita toda a minha vida.
Então, pode ser difícil ouvir sobre a cura e a paz que vêm de Cristo quando não é algo que eu tenha experimentado da maneira como os outros falam. Isso me lembra um pouco de Paulo quando ele ora para que seu sofrimento vá embora, e não vai. Mas, como o tópico é frequentemente encontrar paz em Cristo, é difícil aceitar isso! Acredito que não sou a única a me sentir assim.”
Concordo totalmente com minha querida amiga. Ela não é única que compartilha desses sentimentos. Como conciliamos a promessa de paz em Cristo quando uma doença mental ou outras circunstâncias difíceis nos impedem de sentir paz?
Procurei a resposta para essa pergunta em dois terapeutas clínicos licenciados. Espero que a perspectiva deles faça você se sentir menos sozinho e mais confiante de que o Salvador te ama e está perto de você, mesmo quando não pode senti-Lo.
Encontrar um estado de calma
Derek Hagey, PhD, é um terapeuta de casais e famílias licenciado com uma longa carreira em aconselhamento.
“Acredito que algo a reconhecer quando estamos passando por situações que causam estresse mental, emocional ou social é que pode ser extremamente difícil sentir o amor do Salvador, as inspirações espirituais e a paz que pode vir ao estar perto do Espírito – porque nossos corações e mentes não estão em paz. E sim, um caos”, diz ele.
Derek recomenda identificar métodos que ajudem a acalmar a mente e o coração quando você estiver sentindo esse estresse. Uma maneira de nos acalmarmos é a atenção plena. E só porque essa palavra se popularizou na mídia, não significa que a prática não esteja fundamentada na ciência.
“Estar atento significa ser capaz de se concentrar no presente, ser capaz de focar no aqui e agora e no que temos controle agora. E deixar de lado aqueles estresses externos e coisas que não podemos controlar”, diz ele. “Se conseguirmos acalmar a mente e estar presentes, então é mais possível sentir uma sensação de paz.”
Se você é novo na atenção plena, no site ChurchofJesusChrist.org vemos algumas sugestões nos seguintes passos para praticar uma meditação consciente:
- Encontre um lugar calmo.
- Sente-se, fique de pé ou deite-se em uma posição confortável.
- Feche os olhos devagar.
- Respire fundo e lentamente, pelo nariz e pela boca.
- Observe os sons ao seu redor. O que você ouve? Não se concentre em nenhum som, mas deixe sua consciência vagar de um para outro.
- Em seguida, concentre-se em seu corpo. Comece com os dedos dos pés e passe para cada parte do corpo até chegar ao topo da cabeça.
- Continue a respirar lenta e profundamente.
- Assim que estiver pronto, abra os olhos.
Alguns segundos
Para algumas pessoas, outros métodos para encontrar paz incluem atividade física ou estar com amigos, qualquer coisa que ajude você a estar presente e se concentrar menos nas coisas fora do seu controle. E embora esses métodos possam ser muito úteis, atingir um estado de calma nem sempre é simples.
“Não há uma maneira infalível de [alcançar um estado de paz], então ser paciente consigo mesmo e [com] o que estamos passando é realmente importante”, diz Derek.
“Acredito [também] que algumas pessoas pensam que a paz é algo grandioso, uma revelação enorme! Mas às vezes é momentânea; é apenas por alguns segundos que você sente essa paz. Pode não ser essa experiência reveladora enorme – e está tudo bem se não for. …quanto mais conseguirmos acalmar nossos corações e mentes, mais possível será sentir essa paz por um momento. Nem sempre acontece enquanto estamos orando.”
Enquanto refletia sobre a explicação de Derek, comecei a reorganizar a sequência de encontrar paz em minha própria mente: em vez de tentar alcançar e concentrar toda a minha força em um sentimento de paz, pode ser útil focar primeiro em cuidar da minha mente e corpo. Aprender a cuidar melhor de nossas mentes e corpos é uma maneira de se abrir e receber o que o céu está derramando.
Normalizando períodos de não sentir o Espírito
Jenni Turley, uma assistente social clínica licenciada, também participou de nossa conversa. Eu adorei o que ela disse:
“Assim como podemos normalizar condições de saúde mental, também podemos normalizar períodos de não sentir o Espírito ou a influência do céu”, diz ela. “Acredito que isso é mais relato do que as pessoas pensam quando estão passando por suas dificuldades – pensam que estão sozinhas, as únicas que não sentem a influência de Deus ou não obtém respostas para as orações.”
Ela continua, “Apenas ser capaz de falar de maneiras naturais e normais sobre suas experiências pessoais, onde você teve algumas dificuldades em sentir e ouvir o céu e como você tentou continuar a viver da maneira que gostaria, apesar de as coisas não acontecerem como você gostaria, é realmente poderoso.”
Posso atestar o que Jenni diz. No início deste ano, li “Divine Quietness” de Emily Robison. O livro trata de como a autora sentiu que os céus estavam totalmente fechados para ela por anos e como ela navegou por isso.
Embora o tema pareça pesado, o livro foi tão bem pensado e esperançoso que se tornou uma excelente leitura. Aqui estão alguns parágrafos da introdução:
“Implorei; despejei; fiz tudo o que pensei que precisava fazer. Mas eu não senti nada. Não ouvi nada. Não senti nada. Sentei-me em silêncio. … E além do silêncio que senti sobre essa pergunta, minha vida espiritual normal também ficou quieta. O Espírito parecia ter desaparecido. Deus parecia ter ido embora.
“A quietude divina trouxe consigo a dúvida. Embora a dúvida, por algum tempo, fosse direcionada a Deus, eventualmente se voltou para o interno e expôs as suposições que eu havia feito sobre Deus e minha vida espiritual. Percebi que havia internalizado a suposição de que Deus era, de muitas maneiras, formulista – que se eu fizesse certas coisas, Deus responderia de certas maneiras. Aprendi o valor de repensar as suposições que eu tinha, que animavam invisivelmente minha fé, mas não podiam resistir à experiência da vida real. O colapso dessas suposições abalou minha fé. Aos poucos, aprendi que aquilo era um presente. Com o fim dessas suposições, pude explorar a base da minha fé em Deus. Pude começar a me sentir confortável com a incerteza e com uma fé baseada no amor e na bondade de Deus, desvinculada das minhas expectativas de como Deus deveria se manifestar na minha vida.”
Ao terminar a leitura, me senti capacitada a continuar escolhendo a fé em minha própria vida, mesmo que o céu pareça silencioso. Na verdade, Jenni mencionou que essa decisão de continuar vivendo a vida que você deseja é uma teoria terapêutica chamada terapia de aceitação e compromisso.
“É uma terapia baseada em valores, [onde você] se concentra na capacidade de viver seus valores, mesmo quando não está se sentindo da maneira que gostaria. Ou, poderíamos acrescentar, não está recebendo as respostas que gostaria, ou não tem a influência do Espírito que gostaria de ter em sua vida. Você ainda pode usar seus valores pessoais como base para agir mesmo quando as coisas não são perfeitas ou ideais”, diz ela.
Aprender a ouvir o Espírito
Outro conselho útil que encontrei de Jenni é reconhecer que a maneira como ouvimos o Espírito é um processo evolutivo ao qual podemos aprender a estar abertos.
“O Espírito pode falar conosco de maneiras diferentes em fases diferentes da vida. Talvez uma maneira que recebíamos respostas antes não será a maneira que receberemos respostas durante essa dificuldade específica. Podemos ter que aprender a ouvir o Espírito de maneiras diferentes”, diz Jenni.
Para encerrar, gostaria de terminar com as palavras do discurso do Élder Jeffrey R. Holland na conferência geral de 2013, “Como um Vaso Quebrado”. Espero que lembre que você é sempre profundamente amado(a) e observado(a) enquanto aprende e evolui ao longo da vida.
“Embora possamos nos sentir como um “vaso quebrado”, segundo o salmista,10 devemos nos lembrar de que esse vaso está nas mãos do divino oleiro. Mentes despedaçadas podem ser curadas assim como ossos e corações partidos. Enquanto Deus está operando tais reparos, o restante de nós pode ajudar, sendo misericordiosos, bondosos, sem julgamentos.
Presto testemunho da santa Ressurreição, aquela pedra angular inefável que é a dádiva da Expiação do Senhor Jesus Cristo! Assim como o Apóstolo Paulo, testifico que aquilo que foi plantado em corrupção será um dia levantado em incorrupção, e o que foi plantado em fraqueza por fim será levantado em poder. Presto testemunho do dia em que nossos entes queridos que sabemos que tiveram deficiências na mortalidade se erguerão diante de nós glorificados e grandiosos, admiravelmente perfeitos em corpo e mente. Que momento assombroso será! Não sei se ficaremos mais felizes por testemunhar esse milagre ou mais felizes por eles, ao vermos que estão plenamente perfeitos e “finalmente livres”. Até aquela hora, quando o dom perfeito de Cristo for evidente para todos nós, vivamos pela fé, perseverando na esperança e sendo “compassivos uns com os outros”.
Fonte: LDS Living
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