Por que Samuel, o lamanita, fez profecias cronologicamente precisas?
Durante seu extenso discurso aos nefitas em Zaraenla, Samuel, o lamanita, fez duas declarações proféticas notavelmente específicas. Primeiro, ele declarou: “não se passarão quatrocentos anos antes que caia sobre eles a espada da justiça” (Helamã 13:5, Alma 45:10). Mais tarde, ele disse: “Eis que vos dou um sinal; pois mais cinco anos se hão de passar e eis que então o Filho de Deus virá para redimir todos os que crerem em seu nome” (Helamã 14: 2).
Tais previsões proféticas tão precisas são raras nas escrituras. Mesmo dentro do próprio discurso de Samuel, há outra profecia—o sinal da morte de Cristo – onde o momento exato não é mencionado (veja Helamã 14:14, 20-27). Parece provável que quando o momento exato é incluído no registro, o momento em si é significativo de alguma forma.
Todas as sociedades antigas tinham importantes unidades de calendário ou períodos de tempo que eram cuidadosamente marcados.
John E. Clark, estudioso Santo dos Últimos Dias da Mesoamérica observou, “O maior círculo maia do tempo foi de um período de quatrocentos anos chamado de baktun.” Cada baktun foi dividido em 20 unidades chamadas katun, um ciclo de 20 anos, e o katun foi subdividido em unidades chamadas hotun, um ciclo de cinco anos.
De acordo com John L. Sorenson, “presságios e profecias entre os maias eram comumente formulados em termos de início ou finais de unidades completas de calendário.”
Nesta luz, é significativo que ambas as profecias específicas do tempo de Samuel, o lamanita, estejam correlacionadas com as unidades específicas de medida dentro do sistema calendário mesoamericano. Como disse Clark, “Samuel, o lamanita, avisou os nefitas que um baktun ‘não passaria antes deles [serem] feridos’ (Helamã 13:9).”
Outro estudioso da Mesoamérica, Mark Wright, sugeriu: “Samuel, o lamanita pode ter feito uma profecia de hotun quando ele afirmou que em ‘cinco anos’ sinais seriam dados a respeito do nascimento de Cristo (Helamã 14:2).”
Curiosamente, de acordo com Sorenson, “Em Yucatán, no momento da conquista espanhola, o governante ou o seu porta-voz tinha o dever de profetizar com cinco anos de antecedência o destino dos próximos vinte anos katun.” De forma semelhante, Samuel, o lamanita, profetizou o destino do próximo baktun (Helamã 13:5, 9), e aparentemente fez isso com cinco anos de antecedência (Helamã 14:2).
A antropóloga Prudence M. Rice explicou: “o tempo é uma construção cultural. Suas unidades de medida, significado, e assim por diante, são únicas em termos de legitimação de poder e de autoridade.”
É, portanto, altamente significativo que as profecias cronologicamente precisas de Samuel, o lamanita, usassem períodos de tempo que eram provavelmente importantes dentro do contexto cultural mais amplo dos nefitas. O uso destes períodos de tempo culturalmente importantes provavelmente serviu para legitimar a autoridade profética e credibilidade de Samuel.
Como Sorenson observou, “no pensamento mesoamericano, as profecias de Alma e Samuel para um baktun inteiro teriam sido declarações extremamente profundas.” Outro perito mesoamericano, que também é santo dos úlimos dias, concordou:” A profecia de Samuel incluiu um número tão fortemente evocativo que o povo certamente teria considerado toda a profecia altamente simbólica.”
De acordo com Wright, parte desse simbolismo teria feito a afirmação profética relevante para o público nefita contemporâneo de Samuel. As visões mesoamericanas do tempo eram cíclicas – o que significa que esperavam que certos eventos se repetissem ao longo de cada katun ou baktun.
Assim, uma profecia de destruição em 400 anos—um baktun – também poderia ser considerada como um aviso de destruição no aqui e agora. De fato, Samuel advertiu que, naquele momento, “a espada da justiça está suspensa sobre eles”, que “a ira do Senhor já está acesa contra vós”, e que a única saída era o arrependimento seguido de continuar com fé em Jesus Cristo (Helamã 13:5-6, 30).
Enquanto isso, o hotun era um período comumente celebrado e comemorado, assim como o katun. A profecia de Samuel advertiu as pessoas com antecedência de que o próximo hotun seria realmente uma causa para celebrar—marcaria o nascimento do Senhor e Salvador no mundo.
Mórmon registrou que a vinda do sinal realmente trouxe “alegres novas ao povo” (3 Néfi 1:26). A ocasião era, sem dúvida, honrada e celebrada por hotuns e katuns no futuro, não só como marca do nascimento de Cristo, mas também em comemoração ao milagroso momento do sinal—vindo, como aconteceu, só na hora de poupar os crentes de serem executados (3 Néfi 1:8-16).
Este histórico também potencialmente explica por que um prazo específico para o sinal da morte de Cristo não é mencionado na profecia de Samuel. Não aconteceu na conclusão de uma unidade importante do tempo, assim como o nascimento de Cristo (um hotun) e a derradeira queda dos nefitas (um baktun).
Mórmon, ao que parece, mencionou o calendário específico destes acontecimentos quando coincidiu com os ciclos temporais considerados importantes na cultura circundante. O uso profético de períodos de tempo altamente simbólicos na profecia do Livro de Mórmon parece ser um exemplo do Senhor falando “de acordo com sua língua, para que compreendam. (2 Nefi 31:3; cf. Doutrina e Convênios 1: 24).
Fonte: Book of Mormon Central
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