Um simples conselho que mudou a minha vida para sempre
Me lembro raramente daquele dia de verão em 1968. Meu esposo e eu estávamos sentados na reunião sacramental em uma ala de alunos da BYU, quando recebi um conselho que afetou profundamente a minha vida.
Nosso presidente de estaca estava discursando, e o que ele nos ensinou é uma das poucas lições, que ainda me lembro daqueles 4 anos de vida universitária.
E influenciou incontáveis decisões que meu esposo e eu tomamos, nos preveniu de tomar decisões erradas, e nos deu forças para aguentar um pouco mais, sempre que estávamos prestes a dizer algo que não deveríamos.
Já me perguntei, como nossas vidas seriam diferentes se não estivéssemos naquela reunião sacramental e tivéssemos perdido aquele conselho.
Estávamos em o que chamamos de uma ala para recém-casados, e em média, a maioria das pessoas estavam casadas por volta de um ano, e todos nós frequentávamos a BYU.
O Presidente Callister havia passado uma mensagem firme e clara naquele dia. Ele nos aconselhou sobre um princípio que declarou que abençoaria as nossas vidas.
A maior parte de seu conselho era centralizada no evangelho – frequência regular a Igreja, frequência ao templo, pagar o dízimo e as ofertas, e estudar regularmente as escrituras.
Ele nos disse que durante o tempo que ele estava servindo como presidente da estaca, tinha visto alguns casais entrando em problemas financeiros sérios, ao fazer escolhas precipitadas, o que os levou a problemas maiores dentro do casamento.
Muitos alunos pareciam ter uma propensão para comprar coisas que não podiam pagar.
Por ter 25 mil estudantes na universidade, entrar em uma moradia estudantil era um tesouro para os vendedores, que vendiam todo o tipo de coisas para estudantes desprevenidos – como enciclopédias, utensílios de cozinha, aspiradores, e até mesmo ferramentas.
Ele descreveu algumas táticas de vendas, o que era algo incomum de se ouvir em uma reunião da Igreja.
Muitos vendedores falavam muito bem e podiam fazer você sentir que se você não comprasse as enciclopédias, ou o aspirador, ou as ferramentas naquele dia, então você estaria colocando em risco a educação e a saúde de sua pequena família.
Eles convenciam os recém-casados, (muitos que ainda tinham mais dois anos de estudos pela frente), de que uma pequena parcela de pagamento de 8 a 10 dólares por mês, poderia assegurar o futuro de seus filhos.
Para aqueles jovens casais, viver em apartamentos, com papéis de parede antigos e sem muita mobília, o pensamento de comprar algo para melhorar as suas vidas, era uma ótima oportunidade, que não podiam recusar.
Então eles compravam enciclopédias, aspiradores, potes e panelas e logo estavam pagando 40 dólares por mês, ou mais, dentro de um orçamento de 250 dólares, para pagar o que deveria ter sido comprado alguns anos mais tarde.
E então o Presidente deixou sua mensagem – como um raio saindo de em um céu azul e limpo – A Regra das 72 Horas.
O Presidente Callister tinha alguns conselhos para nós naquela manhã, e prometeu que se guardássemos os seus conselhos, nossas vidas seriam abençoadas, e nunca nos encontraríamos presos financeira e emocionalmente, como muitos outros estudantes estavam.
Ele nos aconselhou a nunca tomar decisões imediatas em uma compra significante, ou tomar ações em questões emocionais, até que tivéssemos pensado e orado sobre o assunto por um período de 72 horas.
Ele disse que frequentemente, alunos com pouca mobília iam a lojas somente para pesquisar e olhar o que eles, um dia, poderia comprar. Antes que eles percebessem, estavam saindo da loja com um carnê de pagamento e haviam comprado toda a mobília para uma sala de estar.
Ele disse que haveriam tempos em que sentiríamos que nossas decisões seriam as mesmas, depois de esperar três dias, e que durante aquele tempo, poderíamos continuar.
Mas ele nos admoestou a não ceder à essas decisões precipitadas – Não depois de 24 ou até mesmo 48 horas, mas para que esperássemos as 72 horas, pensando e orando sobre o assunto.
Ele nos disse que vendedores nos pressionariam para fechar a venda naquele dia, sabendo que se esperássemos, poderíamos mudar a nossa decisão.
Ele falou com tanta convicção que não demorou para que meu esposo e eu determinarmos naquela tarde que seguiríamos o seu conselho. Um ano depois, nossa decisão foi testada.
Um ano depois, um jovem vendedor apareceu na porta de nosso apartamento. Ele disse que tinha um pequeno presente para nós, se ouvíssemos o que ele tinha para nos falar.
Ele falou que tinha acabado de iniciar um pequeno negócio e precisava de alguém para praticar o seu discurso de venda. Ele nos assegurou que o presente seria nosso, independente de nossa decisão de compra, então o deixamos entrar.
Ele estava vendendo livros, e eles vinham em um grande conjunto. Parte da coleção eram enciclopédias, outros eram clássicos, livros de poesia, guias médicos, e livros infantis. Ele nos deu vários livros para olharmos. O material era bem feito e de boa qualidade.
Pensei que valeria a pena compra-los e disse algo sobre isso. Ele imediatamente começou a escrever um recibo de venda quando o parei. Eu disse a ele que esperaria 72 horas antes que pudéssemos decidir sobre a compra.
Ele deve ter pensado que não tínhamos o suficiente para pagar e que precisávamos de três dias para que o nosso cheque para pagamento chegasse, porque ele disse que não tinha problema, podíamos assinar os papéis de venda naquela noite, e ele voltaria para que pagássemos depois.
Expliquei que não poderíamos assinar até que estivéssemos esperando as 72 horas.
Ele parecia confuso, então falei sobre o conselho de nosso presidente de estaca. Afirmei a ele que queríamos comprar os livros e que os compraríamos depois de 3 dias.
Antes que ele percebesse o que estava dizendo, ele aplicou uma de suas mais poderosas técnicas de venda, quando disse, “Não, vocês não vão. Se vocês não comprarem hoje à noite, vocês nunca comprarão esse conjunto.”
Então, ele guardou os livros, nos deu um papel com seu nome e número de telefone, e saiu.
Nunca compramos aqueles livros.
Com o passar dos anos, a Regra das 72 Horas se tornou parte de nossa vida, e fomos abençoados inúmeras vezes por guardar aquele conselho.
Houve muitas vezes onde algo aconteceu e que me deixou emocionalmente chateada, e eu quis sair e conversar com alguém sobre o assunto. Mas como aprendi a esperar e orar por conselho e entendimento, a raiva sempre diminuía.
Algumas vezes, depois de esperar 72 horas, pude seguir com o meu plano original. Mas até mesmo nesses momentos, me senti no controle de minhas emoções e palavras.
A 25 anos atrás, ao ir a um congresso educacional, aprendi a diferença entre as funções do tronco cerebral e do córtex frontal do cérebro, e como eles processam as informações, relacionadas ao comportamento.
O instrutor explicou que os propósitos de ambas as áreas do cérebro são vitais para a sobrevivência humana.
Aprendemos sobre as características do córtex frontal, onde nosso pensamento e resolução de problemas são desenvolvidos. Aprendemos que os lóbulos frontais estão envolvidos com a função motora, resolução de problemas, julgamento e controle de impulso.
Também aprendemos sobre o tronco cerebral – onde nossos instintos de luta e fuga estão centralizados. O sistema nervoso simpático prepara o corpo para o estresse repentino, como se estivéssemos em um acidente de carro.
Quando algo ameaçador acontece, o sistema nervoso simpático faz o coração bater mais rápido, então o sangue chega mais rápido em diferentes partes do corpo que podem estar precisando.
Também libera adrenalina, um hormônio que ajuda a dar mais força para os músculos. Esse processo é conhecido como a reação de lutar ou fugir, e podemos descobrir que em tempos de estresse emocional, que a adrenalina nos ajuda a lutar com nossas palavras e ações também.
Pode levar horas até que nosso corpo volte ao normal depois desse tipo de experiência.
Demorou anos até que eu começasse a ver a correlação entre o que eu tinha aprendido sobre as funções cerebrais e o que o presidente da estaca havia nos aconselhado a tanto tempo atrás.
Precisamos ter certeza que estamos usando nosso córtex frontal, antes de tomar decisões, resolver problemas, ou ter conversas difíceis.
Nunca fui tão grata pela Regra das 72 Horas, como no dia em que fiquei tão chateada com algo que quase ignorei a decisão que havia tomado a tantos anos atrás.
Fizeram um comentário sobre meus filhos. O comentário foi feito publicamente, em uma atividade da igreja, e apesar da pessoa estar brincando, foi dada uma falsa impressão sobre meus filhos para muitas pessoas de nossa ala.
Muitos de nossos filhos ficaram chocados com o comentário, mesmo que fosse uma brincadeira. Não achei nem um pouco divertido. Senti como se a integridade de meus filhos tivesse sido difamada. Tentei deixar passar, mas não consegui.
Os dias se passaram, e eu estava consumida pela raiva. Finalmente, uma tarde, liguei para uma amiga e compartilhei meus pensamentos. Eu esperava que ela me dissesse para deixar para lá, mas ela não o fez. Ela me disse que eu poderia escrever uma carta para a pessoa que tinha feito o comentário.
Trabalhei duro para escrever a carta. Redigi cuidadosamente, e expliquei a reação daquele descuidado comentário. A carta era gentil, mas firme, e transmitia a minha indignação de forma poderosa, mas compassiva. Eu achava que estava bem escrita e decidi que colocaria no correio pela manhã.
No dia seguinte, lembrei da Regra das 72 Horas. Quase pensei em desistir da regra naquele momento, mas eu sabia que essa era uma carta que iria ser enviada. Mas decidi colocar em prática a nossa regra de tantos anos, então decidi esperar as 72 horas e coloquei a carta na gaveta de cima da minha cômoda.
24 horas depois, eu ainda estava chateada e determinada a enviar a carta. Mas eu finalmente tinha chegado ao ponto onde eu poderia orar sobre o assunto.
Pedi ao Pai Celestial que tirasse a raiva do meu coração e minha mente, para que eu pudesse ver mais claramente aquela situação e soubesse o que fazer.
Passaram-se 48 horas, e eu ainda não tinha mudado a minha opinião e pensei que deveria colocar o selo no envelope. E então aconteceu.
De alguma maneira, no tempo entre 48 e 72 horas, um milagre aconteceu em meu coração. Começou enquanto eu lia Doutrina e Convênios 98:23:
“Agora, falo-vos com respeito às vossas famílias: Se os homens vos ferirem ou às vossas famílias uma vez, e suportardes isso pacientemente, e não os injuriardes nem procurardes vingança, sereis recompensados.”
Quando acordei no terceiro dia, percebi que não havia nenhum traço de raiva em meu coração, havia desaparecido completamente. Rasguei a carta e joguei fora.
Com o passar do dia, me senti uma tola ao pensar que tinha me chateado com tudo o que havia acontecido e sou grata ao Senhor por não ter enviado aquela carta.
Tempos depois, aquela pessoa se tornou muito querida para mim, e se eu enviasse aquela carta, nossa amizade teria acabado para sempre.
Somos abençoados mais do que podemos imaginar, por termos líderes da Igreja que nos lideram e nos guiam para sermos mais como Cristo.
Não tenho ideia onde o Presidente Callister aprendeu a Regra das 72 Horas, mas sou grata por seguir por mais de 50 anos, aquela inspiração que ele recebeu e compartilhou conosco.
Meus filhos já me falaram muitas vezes que eu tenho o remorso do comprador ao contrário. Vejo algo que quero comprar, e que parece estar além do nosso orçamento e então começo o processo de 72 horas.
Algumas vezes, quando decido que posso comprar, o item já não está mais disponível. Mas posso viver com isso por causa das muitas e muitas vezes em que fui protegida de mim mesma e pude tomar melhores decisões.
Fonte: Meridian Magazine