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Como o Elder John H. Groberg foi guiado por Deus para abençoar um homem no leito de morte

O seguinte é um trecho do livro Fogo da Fé do Élder John H. Groberg, que detalha suas experiências com sua família de quando serviu como presidente de missão em Tonga.

Em uma das minhas viagens para as ilhas, fui convidado a participar de algumas reuniões numa sexta-feira à noite e sábado de manhã na Califórnia, em seguida, ir para o Havaí para reuniões no sábado à tarde e domingo. Começamos a nossa reunião de sexta-feira à noite com muitos assuntos importantes para tratar. As reuniões desta natureza demoram normalmente mais tempo do que o previsto. Naquela noite, no entanto, todos os envolvidos pareciam estar em acordo e os assuntos foram resolvidos rapidamente. Quase nunca senti um espírito de cooperação tão bom e um desejo de ajudar por parte de tantos.

À medida que nos aproximávamos do fim daquele compromisso, tive a impressão de que, em vez de nos reunirmos novamente de manhã, deveríamos ficar um pouco mais tempo e terminar também os assuntos que ficariam para a manhã seguinte. Quando propus que o fizéssemos, todos concordaram. Depois, passamos pelos assuntos adicionais de forma exaustiva, mas rápida.

Ao oferecer as minhas orações naquela noite e agradecer a Deus por sua ajuda, senti que algo importante viria desta inesperada mudança de planos. Eu sabia que o Espírito dele estava me guiando, mas naquele momento não vi exatamente para onde.

Por alguma razão não dormi bem. Não conseguia perceber por que, pois as coisas tinham corrido tão bem. Ao me mexer e me virar na cama, parecia quase estar com dores físicas. Finalmente me levantei às 5h30 e comecei a revisar tudo o que fora tratado na noite anterior. Estava pensando se tinha deixado alguma coisa de fora ou se não devia ter cancelado a reunião daquela manhã. O meu avião só partiria para Honolulu ao meio-dia. Enquanto orava por orientação, tive a sensação de que devia ligar para a companhia aérea e tentar um voo mais cedo para o Havaí.

Eu imediatamente liguei e soube que havia um voo saindo em 45 minutos. Reservei um assento e juntei as minhas coisas. Enquanto corria para fazer o check out, pensei: “Isto é meio bobo. Se eu perder o avião, terei que ficar no aeroporto por várias horas, e se eu conseguir entrar no avião terei que ficar no aeroporto de Honolulu por várias horas, uma vez que não existe nenhum jeito falar com aqueles com quem vou me encontrar para lhes dizer eu estou indo mais cedo.”

Uma vez que eu já tinha feito as malas e chamado um táxi, senti que eu deveria tentar. O táxi estava esperando, então “voamos” (quase literalmente) para o aeroporto. Corri o caminho todo até ao portão e cheguei assim que fecharam a porta. Foi preciso uma explicação detalhada, mas finalmente abriram a porta e me deixaram entrar.

Quando me sentei, pensei: “Bem, pelo menos posso dormir no avião.” Eu estava realmente cansado; no entanto, eu ainda não conseguia dormir. Me senti desconfortável o tempo todo. Ocasionalmente, pensei ter ouvido alguém me chamar ou implorar, mas não consegui entender. Acabei chegando em Honolulu mais cansado do que nunca. Peguei minhas malas e me sentei do lado de fora do aeroporto, pensando que precisaria esperar por um longo tempo.

De repente, ouvi alguém a chamar pelo meu nome. Olhei para os lados e vi um dos meus antigos missionários, que agora era estudante na BYU-Hawaii, ele estava me chamando de dentro de seu carro. “Presidente Groberg”, disse ele. “Já ouviu falar de Sione Vea?”(Sione Vea tinha sido um dos meus conselheiros na presidência do distrito de Ha’apai quando eu era um jovem missionário.)

“Não”, respondi. “O que aconteceu?”

“Ele acabou de chegar de Tonga e está muito doente. Ele está no Hospital Queen, e eu estava indo visitá-lo quando tive a sensação que deveria passar pelo aeroporto. Vi o senhor sentado ali e me perguntei se gostaria de vir comigo para visitar Sione. Claro, se tiver outros planos, eu vou sozinho.”

“Adoraria ir”, respondi. “As minhas reuniões são só pela tarde.”

Fomos diretamente para o hospital. Quando chegamos ao quarto do irmão Vea, a enfermeira nos disse que ele estava em estado crítico e o médico disse que ele não podia receber visitas a não ser que fosse da família. Eu expliquei que eu era um líder da igreja e que em nossa fé eu era seu irmão e eu tinha viajado milhares de milhas a seu pedido para vê-lo. Como eu disse que sabia que estava dizendo a verdade, porque percebi que era ele quem estava me chamando. Agora posso entender em minha mente o seu chamado: “Por favor venha, por favor venha.” A enfermeira olhou para a minha pele branca, mas meu companheiro de Tonga assegurou-lhe que eu estava dizendo a verdade, então ela finalmente nos deixou entrar.

O pobre Sione Vea estava deitado na cama gemendo de dor, os olhos apertados bem fechados e os punhos apertados em agonia. O corpo dele tinha uma cor amarela muito doentia. Me aproxime de sua cama, coloquei uma mão em sua testa e a outra em suas mãos e disse: “Sione, vim como pediu”

Ele abriu os olhos, olhou para mim, sorriu e disse: “Obrigado por ter vindo. Faz tempo que não me sinto bem. Finalmente vim ao Havaí para visitar o meu filho, e me colocaram no hospital. Só conheço o meu filho nesse lugar. Durante os últimos dias, quando senti uma dor forte, senti que você estava em algum lugar por perto, então eu orei com todas as minhas forças ao Pai Celestial para que você viesse me visitar e me desse uma bênção. Ontem à noite, exercitei a minha fé e pedi a Deus que providenciasse as coisas para que você pudesse vir. Obrigado por ter vindo. Espero que não se importe. Pode me dar uma bênção?”

Os olhos dele estavam tão amarelos e o rosto tão abatido que mal conseguia o reconhecer. Sua voz era doce e gentil e seu sorriso cativante. Me senti calmo, como quando se visita um velho amigo de confiança.

Disse-lhe que ficaria feliz em lhe dar uma bênção. O meu companheiro o ungiu e eu selei a unção. Tinha a certeza que Deus tinha uma grande bênção para ele. Comecei a bênção. Mas ao invés de dar a bênção que eu senti que ele merecia, eu senti que deveria falar um pouco sobre o passado e dos passeios de barco que fizemos juntos, sobre mares bravos e calmos. Lhe contei das vezes em que ele deixou o seu trabalho noturno de vender amendoins torrados e me acompanhou em várias emergências. Me lembrei de termos plantado coqueiros no quintal dele. Por um momento parecia que não estávamos em uma sala de hospital em Honolulu, mas caminhando pelas estradas de terra empoeiradas e velejando pelas águas de Ha’apai. Senti seu corpo tenso relaxar. Eu estava lembrando de coisas e falando sobre assuntos que não tinha pensando em anos.

As palavras que saíram de mim foram mais como uma conversa entre amigos sobre o passado do que uma bênção para as necessidades atuais. Falei do amor e do apoio de sua esposa e de sua família. Falei da sua fidelidade e de seu desejo de fazer qualquer coisa que lhe pedissem, sempre que lhe pedissem. “Agora,” eu disse, “por causa dessas qualidades, você está recebendo uma tarefa especial.” Uma explicação mais detalhada e muito pessoal se seguiu.

Quando eu terminei, ele parecia totalmente relaxado, quase como se a dor tivesse desaparecido. Ele pegou em minhas mãos, olhou para mim com um sorriso, e disse: “Obrigado por ter vindo. Queria mesmo continuar a minha vida aqui e esperava que essa fosse a minha bênção. Mais do que tudo, no entanto, eu queria saber o que Deus desejava de mim. Agora já sei. Estou em paz. Totalmente em paz. Obrigado por recordar os nossos tempos juntos. Me fez me sentir bem. Sinto que isto me preparou para o que está para vir. Esses foram os melhores momentos da minha vida. Obrigado por confiar em mim e por me pedir para fazer coisas que, naquele momento, pareciam difíceis. São bênçãos reais, sabe, especialmente agora. Obrigado por ouvir os meus pedidos e por ter vindo. Espero que não tenha sido muito incômodo. Adeus.”

Enquanto segurava a mão de Sione e via o brilho de sua fé irradiando em seus olhos, parecia que eu estava navegando com ele — navegando em Ha’aPai, navegando para o Havaí, talvez até navegando pela eternidade. Senti que era uma viagem de fé. Apertei sua mão e senti uma sensação ainda mais forte de navegar sem esforço pelo espaço e pelo tempo, de ser guiado por um Deus amoroso. Os nossos olhos encontraram-se. Ele sorriu e eu senti a paz que ele sentia. Com certeza profunda eu disse: “Folau a, Sione. “Ofa pe ke monu’a ho folau. Ta toki fe’ola’aki ‘o toe folau’ o a’u ki he ta’engata. Folau A. ” (“Continue navegando, Sione. Tenha uma viagem abençoada. Voltaremos a nos encontrar e navegaremos por toda a eternidade. Navegue.”) Ele fechou os olhos e nós fomos embora.

Fui à minha reunião, mas antes de começarmos liguei para a esposa de Sione. Em meio a lágrimas, ela me disse que Sione tinha acabado de falecer. Disse-lhe que ele tinha começado outra viagem com Deus e que estava em paz. Ela acreditou em mim e ficou confortada… De certa forma fiquei chocado com o poder do amor, da fé e da oração em mover pessoas e eventos de tal forma que necessidades importantes foram atendidas. No entanto, por outro lado, tudo parecia muito natural…

Quando compreendermos o verdadeiro poder do amor, da fé e da oração, ficaremos espantados por não estarmos mais conscientes deles e não os usarmos melhor. Eles contêm poderes que vão além das limitações aparentes de tempo e espaço e permitem que o bem seja realizado e as bênçãos sejam dadas conforme necessário. As várias pequenas variáveis de tempo ou espaço que poderiam ter me impedido de estar em lugares quando necessário, tinham pouco a ver com tempo e espaço, mas tudo a ver com oração, amor e fé. Há muitos Sione Veas nos chamando, “por favor, venha, por favor venha.” Espero que o seu chamado não seja tão brando, nem que os nossos ouvidos sejam tão fracos. Fiquei contente pelo pedido de ajuda de Sione e por ter acontecido da maneira que aconteceu.

Fonte: LDS Living

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