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Eloim e Jeová são a mesma pessoa?

Afirma-se que Eloim, Jeová, Adonai e outros nomes hebraicos semelhantes do Antigo Testamento para a deidade são simplesmente títulos diferentes que enfatizam diferentes atributos do “único Deus verdadeiro”.

Para apoiar essa afirmação, no livro Answering Challenging Mormon Questions: Replies to 130 Queries by Friends and Critics of the LDS Church, de Michael Hickenbotham, são citadas escrituras do Antigo Testamento que falam de “SENHOR [Jeová] vosso Deus [Eloim]” (Deuteronômio 4:2; 4:35; 6:4) como prova de que estes são títulos diferentes para o mesmo Deus.

A certeza de que Eloim era o Deus Todo-Poderoso e Pai de todos nós, e Jeová era e é Jesus O Cristo, Seu Filho, é baseado em escrituras modernas (D&C 110:1-4) e não em uma escritura da Bíblia.

Os ensinamentos dos profetas e apóstolos modernos tendem a reforçar este uso, como quando o Presidente Joseph F. Smith ensinou, “entre os filhos do Espírito de Eloim, o primogênito foi e é Jeová ou Jesus Cristo, a quem todos os outros são juniores.

O uso dos títulos Eloim e Jeová pelos Santos dos Últimos Dias para se referir a Deus nosso Pai Celestial e Seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, respectivamente, não tem como objetivo dizer que é assim que esses títulos sempre foram usados antigamente, inclusive na Bíblia Sagrada.

Na verdade, estes títulos são uma convenção de nomenclatura usada na Igreja moderna para clareza e precisão. Uma vez que Cristo pode ter falado como “o Pai” em muitas ocasiões, os Santos modernos usam esses nomes-títulos para evitar confusões, independentemente de qual ‘papel’ de um Personagem divino está sendo discutido.

Uma vez que esta terminologia não foi padronizada por conveniência e clareza antes do século XX, não esperem que os primeiros escritos da Igreja sempre usem os mesmos nomes, pois isso só começou a acontecer décadas mais tarde.

Da mesma forma, não dá muito certo tentar ler a Bíblia como se seus escritores seguissem a mesma prática moderna, pois eles estão em um diferente momento da história e isso pode levar a confusão e má interpretação.

Embora Eloim seja entendido e usado em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias como o nome-título para Deus, o Pai Eterno, e o nome Jeová está reservado para o Seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, nem sempre foi assim.

Os membros da Igreja de Jesus Cristo do século XIX—incluindo Joseph Smith, Brigham Young e John Taylor – geralmente usavam Jeová como o nome de Deus, o Pai. Os Santos dos Últimos Dias também reconhecem que a palavra hebraica Eloim foi usada na antiguidade como uma palavra genérica para “deus”.

Uso de Eloim e Jeová no Antigo Testamento

A separação de Eloim e Jeová no Antigo Testamento Hebraico não é tão clara quanto os críticos nos ensinam.

As seguintes escrituras ilustram a confusão de nomes divinos no Antigo Testamento:

  • Êxodo 34:23 combina as palavras hebraicas Adon (Senhor), Jeová (SENHOR) e Eloim (Deus [de Israel]) em um título que é traduzido “Senhor Deus, o Deus de Israel” ou “Senhor Jeová, Deus de Israel.”
  • A versão hebraica do Salmo 82:1 diz: “Deus [Eloim] está na assembleia de Deus [El]; ele julga no meio dos deuses [Eloim].”
  • Salmo 110:1 diz: “O SENHOR [Jeová] disse a meu Senhor [Adonai], senta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés.”(Hebreus 1:1-3 indica que Deus o Pai disse isso a Jesus Cristo; veja também Mateus 22:44; Marcos 12:36; Lucas 20:42.)
  • Em um exemplo (Salmo 8:5), o Eloim hebraico é até mesmo transformado em “anjos”. O texto hebraico afirma que Jeová fez do filho do homem “um pouco menos do que Eloim” [Tradução João Ferreira de Almeida “anjos”]. Embora as traduções mais literais tornem Eloim “Deus” neste versículo, há justificativa para traduzi-lo como “anjos”: Hebreus 2:7 cita este versículo, usando a palavra grega aggelos (“anjos”) no lugar de Eloim.
  • Também descobrimos que Eloim é traduzido em quatro casos como “juízes” (Êxodo 21:6, Êxodo 22:8-9), embora “representante de Deus” seja provavelmente o significado pretendido. Isso, no entanto, mostra que os nomes divinos foram usados por escritores inspirados com significados diferentes.

Desenvolvimento dos nomes-títulos na história israelita

No Antigo Testamento, o título Eloim muitas vezes enfatiza as qualidades fortes e conservadoras dos convênios de Deus, enquanto o nome Jeová, os atributos autoexistentes e eternos; e Adonai, as características de um senhor soberano; eles nem sempre foram aplicados a um só Deus.

Um estudo das várias palavras hebraicas usadas para a deidade no Antigo Testamento revela que os mesmos nomes-títulos eram frequentemente usados tanto para deuses verdadeiros e falsos como para líderes humanos.

Assim, o hebraico para Eloim e Jeová eram frequentemente usados em um sentido genérico. Tal uso poderia especialmente causar confusão se o texto fosse modificado depois.

Eugene Seaich, estudioso Santo dos Últimos Dias de filosofia e religião, indicou que muitos outros estudiosos descobriram que a teologia cananeia e israelita reconheciam dois conjuntos de características divinas separadas e distintas: um para um “Pai dos deuses” e “Pai dos homens”, e o outro para um filho, que era um “deus que morre e ressuscita, que deu vida a todas as criaturas” e “administrou o cosmos para seu Pai.”

Seaich explica que o Deus Altíssimo foi chamado “El e seu filho foi chamado Ba’al pelo menos durante o tempo da monarquia israelita.” Os Israelitas que voltaram do deserto com a religião mosaica se referiam ao filho de El como Yahweh.

Algumas evidências desta distinção ainda sobrevivem em nossas escrituras do Antigo Testamento (ver Deuteronômio 32:8-9; Salmo 82; Provérbios 30:4). Ele também observa que o capítulo 1 de Gênesis fala de Eloim (a forma mais longa de El) como o criador, enquanto o capítulo 2 fala de Yahweh-Eloim. Seaich escreve:

“A reforma mosaica, que só começou como uma tentativa de eliminar a promiscuidade em que o antigo politeísmo tinha afundado (Êxodo 32), levou pelo menos meia dúzia de séculos para se estabelecer como a “verdadeira” religião de Israel, eliminando no processo muitas verdades anteriores, antes de emergir como o “monoteísmo ético” do judaísmo tardio.

No novo monoteísmo os primeiros Eloim e Yahweh tornaram-se o único “YHWH-Eloim” de Deuteronômio 6:4. A assimilação completa de dois deuses em um provavelmente levou tanto tempo quanto a “reforma monoteísta” em si, ou seja, de 1500 a 500 a.C. Finalmente, o próprio Antigo Testamento foi completamente submetido a uma revisão correspondente (conhecida como a “Revisão Deuteronômica”).”

Investidura divina

Os Santos dos Últimos Dias também acreditam que Jesus falou muitas vezes pelo Pai por direito de investidura divina. Bruce R. McConkie escreveu:

“Desde que ele [Jesus] é um com o Pai em todos os atributos da perfeição, e desde que ele exerce o poder e a autoridade do Pai, o Pai coloca Seu próprio nome no Filho e autoriza-O a falar em primeira pessoa como se Ele fosse o Pai.”

Há inúmeros exemplos de investidura divina nas escrituras. Os mais claros exemplos da Bíblia envolvem anjos falando em nome de Deus ou de Cristo (Gênesis 22:11-12; Êxodo 3:2, 6; 23:20-21; Apocalipse 1:1; 19:9-13; 22:8-16), embora Cristo também falasse “como se ele fosse o Pai” em muitas ocasiões, ao longo de todo o Antigo Testamento (Gênesis 17:1; 35:11; Êxodo 6:3). Cristo também foi referido como “o Todo-Poderoso” (Apocalipse 1:8, 18; 4:8; 11:17). É por esta razão que muitos outros cristãos identificam Eloim e Jeová como a mesma pessoa.

A visão dos Santos dos Últimos Dias

O conceito de Cristo como o Pai é claramente definido em uma declaração de 1916 intitulada “O Pai e o Filho: uma exposição doutrinária da Primeira Presidência e dos Doze.”

Suporte adicional para a diferenciação Santo dos Últimos Dias no uso de títulos divinos é encontrado nas escrituras do Novo e Velho Testamento. Mateus e Marcos relataram que Jesus enquanto estava na cruz gritou para seu Pai usando o nome Eli (Mateus 27:46) ou Eloi (Marcos 15:34). Ambos os nomes são considerados pelos estudiosos como equivalentes aramaicos de El ou Eloim.

Embora as referências à filiação de Cristo sejam um pouco raras no Antigo Testamento, elas ainda existem. Daniel 3:25 descreve um quarto indivíduo na fornalha de Nabucodonosor cuja forma era como um “filho de Deus [Elá].”

Provérbios 30:4 fala do “filho” do criador e Daniel 7:13 refere-se à gloriosa vinda do “Filho do homem” (compare João 3:13 e Moisés 6:57). Oséias 11:1 foi citado por Mateus (2:15) como uma profecia de que o “filho” de Deus seria chamado para fora do Egito e não devemos esquecer que a famosa profecia messiânica de Isaías previu o nascimento de um filho que também seria conhecido pelos títulos “Pai Eterno” e “Deus poderoso” (Isaías 7:14; 9:16).

Todas estas escrituras fornecem evidências de que, como Néfi afirmou, “um grande número tropeça” agora por causa das “muitas coisas claras e preciosas” das escrituras (1 Néfi 13:26-30, 34, 40).

Eloim versus Eloheim

Algumas obras Santo dos Últimos Dias (especialmente do século XIX) podem se referir a “Eloheim”, em vez dos mais familiares (especialmente para os não-membros da Igreja) “Eloim.”

Ambas as palavras representam a palavra hebraica אלהים – São transliterações (que é simplesmente converter o hebraico em letras romanas). Durante o século XIX, houve dois estilos de transliteração hebraica e sistemas de pronúncia:

  • Ashkenazic (das comunidades judaicas do norte da Europa – começando na Alemanha); e
  • Sefardita (de comunidades judaicas do sul da Europa, a maioria vinda da Espanha e de Portugal).

curiosidades

O instrutor hebraico de Joseph Smith, na escola dos profetas de Kirtland, foi Joshua/James Seixas—ele também ensinou muitos outros membros da Igreja de Jesus Cristo a ler o hebraico Bíblico em Kirtland.

A família de Seixas veio de Portugal, e assim ele ensinou hebraico sefárdico (ele foi um dos melhores—se não o melhor—hebraista norte-americano de sua época). O hebraico sefardita pronuncia a palavra para Deus de forma um pouco diferente do hebraico Ashkenazic (que é o hebraico que é mais comumente usado e ensinado hoje).

O instrutor de Joseph soletrou esta palavra eloheem, e esta pronúncia tornou-se o eloheim que às vezes é usado em escritos Santos dos Últimos Dias. Porém, ambas as versões representam exatamente a mesma palavra.

A mudança de eloheim ou eloheem para Eloim ocorreu como escrita posterior para os Santos dos Últimos Dias, em particular com o Élder James E. Talmage, que teve contato com estudiosos do hebraico que seguiam o estilo de pronúncia Ashkenazic. Isso levou a uma mudança no uso entre a liderança da Igreja, que agora corresponde ao mundo mais amplo de estudiosos que não são Santos dos Últimos Dias. São, no entanto, essencialmente a mesma palavra.

Fonte: Fair Mormon

 

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