Os missionários que perderam a viagem no Titanic
Na noite fria de 14 de abril de 1912, o RMS Titanic, o mais novo transatlântico com em torno de 2.200 de pessoas a bordo, colidiu contra um iceberg, causando uma enorme abertura na lateral do navio.
Horas depois, no dia 15 de abril às 2h20 da manhã, o imenso navio naufragou no oceano Atlântico. Milhões em todo o mundo lamentaram a perda de aproximadamente 1.500 pessoas quando o “inafundável” Titanic submergiu em sua primeira viagem da Inglaterra para os Estados Unidos.
Agora, 110 anos depois, voltamo-nos para esse desastre e àqueles ligados à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Os missionários que perderam a viagem
Alma Sonne e seu companheiro, Fred Dahle, estavam voltando para casa junto com quatro outros élderes, George B. Chambers, Willard Richards, John R. Sayer, and L. J. Shurtliff, após completarem suas missões na Inglaterra.
Mas, quando chegou a hora de se encontrarem em Southampton, o Élder Dahle se atrasou. O Élder Sonne, que convenceu o Élder Dahle a servir uma missão e que também havia reservado as passagens no Titanic, decidiu que eles não deveriam deixar ninguém para trás.
Então, ele cancelou as reservas para que pudessem partir no dia seguinte quando o Élder Dahle chegasse.
Naquele instante, alguns élderes ficaram desapontados por não viajarem no Titanic, depois eles agradeceram a Deus ao descobrirem o que teria acontecido com eles. “Você salvou a minha vida”, disse o Élder Sonne ao Élder Dahle. “Não”, ele respondeu. “Ao me levar nesta missão, você salvou a minha vida”.
Mais tarde, Alma Sonne serviu como presidente de estaca e assistente do Quórum dos Doze Apóstolos.
Histórias Bônus
Uma montanha de gelo
O Élder James Hamilton foi passageiro do Virginian, um navio que foi redirecionado para ajudar nos esforços de resgate do Titanic (apesar de centenas de sobreviventes terem sido resgatados pelo Carpathia).
Ele escreveu sobre sua experiência: “Logo depois das 9h da manhã, chegamos ao iceberg que causou o naufrágio do maior navio a vapor em funcionamento e a morte de 1.630 pessoas, as quais por seis horas viajaram nele. Era nada mais e nada menos do que uma montanha de gelo. Às 11h, passamos pelo lugar onde o Titanic afundou”.
A mãe que se sacrificou para salvar outros
Irene Colvin Corbett, uma mãe de 30 anos de Provo, Utah, e prima do presidente Joseph F. Smith, embarcou no Titanic depois de uma viagem de seis meses na Inglaterra a fim de estudar obstetrícia. Assim como 13 outras mulheres na segunda classe, ela não sobreviveu.
Embora a morte dela possa ter acontecido por causa da escassez de botes salva-vidas, muitos acreditam que Corbett não sobreviveu porque ela colocou seu treinamento médico em prática e ajudou muitas pessoas antes que o navio afundasse, sendo então tarde demais para entrar em um bote.
A habilidade de servir e se preocupar além da própria segurança é o que provavelmente a levou a ajudar e salvar muitas vidas, mesmo que isso significasse desistir da sua. Ela é a única santo dos últimos dias que sabemos ter falecido no Titanic.
Como uma passageira da segunda classe, Corbett possivelmente teria passado muito tempo na biblioteca ou socializando nos deques abertos, na sala de jantar da segunda classe ou no convés de passeio.
Mesmo que os alojamentos de cada classe fossem separados, era comum os passageiros da primeira e segunda classe socializarem juntos.
Um defensor da liberdade religiosa
William Thomas Stead era outro passageiro do Titanic. Como editor do Pall Mall Gazette, um jornal de Londres, William usou suas palavras para lutar contra a intolerância e preconceito direcionados aos santos dos últimos dias.
Apesar de Stead não ser membro da Igreja, ele escreveu artigos em seu jornal compartilhando suas crenças de que membros da Igreja não deveriam ser perseguidos e desmascarou muitos rumores negativos que circulavam sobre a Igreja.
Stead estava a caminho de um congresso de paz em Carnegie Hall, a pedido do presidente dos Estados Unidos, William Haward Taft.
Rudger Clawson, um dos primeiros membros do Quórum dos Doze Apóstolos, disse sobre Stead: “Com certeza, cada santo dos últimos dias que pousar seus olhos nos escritos do Sr. Stead sempre se lembrará dele de maneira honrosa”.
Stead, um passageiro da primeira classe do Titanic, teria usufruído da piscina aquecida do navio, do ginásio e do banho turco. Ele provavelmente teria comido no Café Parisien, onde a comida era feita por chefes profissionais.
As cabines da primeira classe incluíam um quarto particular, uma sala de estar e um banheiro particular. Quartos de padrão médio da primeira classe ainda ostentavam algumas comodidades das cabines, mas em uma escala menor.
Os passageiros podiam usar o telégrafo do navio e enviar mensagens a amigos e familiares em terra, embora enviar telegramas fosse caro, pois os passageiros eram cobrados por cada letra na mensagem.
Santos britânicos entram em ação
Chocados e tristes devido ao naufrágio do Titanic, os santos na Inglaterra decidiram realizar um concerto beneficente em Londres em 4 de maio de 1942. Membros da Igreja cantaram, tocaram piano e recitaram poesia.
Como citado no Milennial Star na semana seguinte, Alderman E. H. Tripp, primeiro prefeito de Finsbury, Londres, disse que ele não estava “nem um pouco surpreso” que os santos dos últimos dias estivessem “entre os primeiros a contribuírem com seu dinheiro e talento em uma causa que precisava tanto”.
Declarações de líderes da Igreja sobre o Titanic
A notícia sobre o Titanic também afetou profundamente os santos em Utah. O Élder Orson F. Whitney do Quórum dos Doze Apóstolos foi o primeiro a comentar publicamente, no domingo seguinte, sobre a tragédia durante uma conferência trimestral na cidade de Salt Lake. Ele disse:
“Sinto a profunda seriedade deste momento. Meu coração está despedaçado. Estou sofrendo com vocês […]com essa tragédia do Titanic. […] É aterrorizante considerar a providência de Deus que um número tão grande de Seus filhos fosse chamado para a eternidade de forma instantânea. Não há um povo na Terra a quem essa ideia tenha um significado tão grande quanto para os santos dos últimos dias. […] Meu coração está cheio de empatia por aqueles cujos entes queridos faleceram nesse grande desastre. Não tenho nada além de tristeza e condolências a expressar, e nenhuma palavra de censura escapará de minha boca. Deixe Deus julgar quem quer que seja o culpado”.
Algumas semanas depois, o presidente Joseph F. Smith, cuja prima, Irene Corbett, faleceu a bordo do Titanic, foi citado na revista Improvement Era onde dizia:
“Espiritualmente, a catástrofe nos ensina que as vanglórias que às vezes escutamos de certos capitães e passageiros descrentes, […] são vãs, injustificáveis e insensatas. Isso nos ensina com uma força que deveria mexer com o descrente mais ferrenho, que a humanidade ainda depende Daquele ‘que aplaca o ruído dos mares, o ruído das suas ondas, e o tumulto do povo’”.
Fonte: LDS Living