O poder de libertação: Por que Néfi matou Labão?
O que parece desobedecer a um mandamento foi, na verdade, um exemplo da grande misericórdia de Deus.
Para algumas pessoas, especialmente aquelas que não estão tão familiarizadas com o Livro de Mórmon, a história mais desafiadora ou perturbadora é de quando Néfi mata Labão (ver 1 Néfi 3-4). Néfi não poderia somente vestir as roupas de Labão, recuperar as placas e sair junto com Zorã?
Néfi escolheu registrar esta história
Nas muitas vezes que estudei e ensinei sobre esta ocasião, ponderei porque Néfi a incluiu em seus registros. Certamente ele entendeu como seria difícil para as pessoas a compreenderem. Ele não poderia ter simplesmente deixado de lado esse difícil detalhe de matar Labão e apenas relatar que pelo poder de Deus, ele e seus irmãos foram capazes de obter as placas?
A questão é que ele contou tudo. Néfi sentiu, pelo Espírito, que deveria escrever este relato detalhado de como ele obteve as placas de latão (ver 1 Néfi 19:6; 2 Néfi 5:30-32).
É importante lembrar que quando Néfi começou este registro, ele já sabia o que aconteceria. Ele teve mais de 30 anos para refletir sobre o encontro com Labão, e sua importância se tornou cada vez mais significativa para ele. Ele viu claramente o que o Senhor tinha feito por sua família e o porquê. (Ver 2 Néfi 5: 28.)
Em 1 Néfi 1, com uma perspectiva perfeita de onde levar seus leitores, Néfi explicou algo importante sobre o que ele estava prestes a escrever: “E eis, porém, que eu, Néfi, vos mostrarei que as ternas misericórdias do Senhor estão sobre todos aqueles que ele escolheu por causa de sua fé, para torná-los fortes com o poder de libertação” (versículo 20).
Em última análise, a libertação na qual estou focando não era apenas buscar as placas ou Néfi ter voltado com vida. Nem foi apenas a libertação da nação nefita. Em vez disso, o resultado foi algo muito maior—que tinha como objetivo ajudar na libertação de toda a humanidade.
O contexto é crucial
Para contextualizar esta história, temos de rever os acontecimentos que a antecederam.
O Senhor ordenou a Leí que enviasse seus filhos de volta a Jerusalém para obter as placas de latão (ver 1 Néfi 3:2-4). Não seria fácil. Obter estas placas seria um verdadeiro teste de fé.
Quando Néfi e seus irmãos chegaram próximo de Jerusalém, eles lançaram sortes para determinar quem seria o primeiro a se aproximar de Labão. A sorte caiu sobre Lamã, que foi a casa de Labão e pediu que ele lhe desse as placas. Mas, Labão chamou Lamã de ladrão e ameaçou matá-lo. Lamã fugiu e contou aos seus irmãos o que Labão tinha feito. Apesar do ocorrido, Néfi persuadiu seus irmãos a continuar sua missão. (Ver 1 Néfi 3:10-21.)
Em sua segunda tentativa, eles decidiram recolher as riquezas de seu pai e negocia-las pelas placas. Quando eles chegaram à casa de Labão, ele novamente mostrou sua natureza corrupta, roubando suas coisas preciosas e tentando matá-los. Os irmãos fugiram e se esconderam. (Ver 1 Néfi 3:22-27.)
Irritados e cheios de incredulidade, Lamã e Lemuel, mesmo tendo sido repreendidos por um anjo (ver 1 Néfi 3:29-31), se recusaram a tentar obter as placas novamente. Então Néfi foi sozinho, sendo “guiado pelo Espírito, não sabendo de antemão o que deveria fazer” (1 Néfi 4:6). Naquela noite, sozinho nas ruas de Jerusalém, Néfi encontrou Labão no chão, embriagado.
Quando Néfi olhou para aquele homem que tinha procurado tirar suas vidas, o Espírito o constrangeu a matar Labão.
A ideia era abominável para Néfi, e ele resistiu. O Espírito o compeliu por duas vezes mais, lembrando-lhe: “o Senhor mata os iníquos, para que sejam cumpridos seus justos desígnios” (1 Néfi 4:13; Ver também 1 Néfi 4:7-12; Deuteronômio 7:2). Enquanto a relutância de Néfi refletia seu respeito pela vida, esta experiência finalmente demonstrou sua profunda reverência por obedecer a vontade do Senhor.
Uma vida perdida contra muitas
Néfi reconheceu que o registro ajudaria a preservar o idioma de seu povo e que sua posteridade precisaria conhecer os mandamentos, a fim de cumpri-los (ver 1 Néfi 3:19; 4:15-16). Sem as placas de latão, eles não obteriam as palavras dos profetas. Néfi também sabia pelo Espírito que o Senhor havia entregue Labão em suas mãos e que era “melhor que pereça um homem do que uma nação degenere e pereça na incredulidade.” (1 Néfi 4:13).
O Senhor estava guiando Néfi de uma forma que resultaria na menor perda. O Senhor deu a Labão duas oportunidades para entregar as placas. Embora não saibamos pelo registro, é provável que o Senhor tivesse dado avisos ou advertências a Labão, que os ignorou. O Senhor também sabia que esses registros sagrados seriam logo destruídos na próxima invasão pelos babilônios se eles não fossem retirados dali (relacionado: 2 Néfi 26:17; Enos 1:14; Mórmon 6:6).
Deixar Labão vivo teria resultado em mais mortes e mais sofrimento. É possível que ele ou outros seguissem Néfi e seus irmãos no deserto e matassem toda a sua família. (Ver 1 Néfi 4:36)
Mais milagres
Néfi obedeceu ao Senhor. Depois de matar Labão, ele se vestiu com roupas e armaduras de Labão e foi em direção ao tesouro, onde conheceu Zorã, servo de Labão. Por causa do poder de Deus que estava sobre Néfi, Zorã não suspeitou de nada. Para ele, Néfi parecia e soava como Labão – outra parte do poder de libertação milagroso. Zorã buscou as placas de latão e seguiu Néfi para fora da cidade. (Ver 1 Néfi 4:19-26.)
Os irmãos de Néfi o viram de longe e fugiram, confundindo-o com Labão. Néfi os chamou com sua própria voz, e eles pararam de fugir. Zorã, no entanto, temia por sua vida. Néfi fez um juramento solene de que se Zorã fosse com eles, eles poupariam sua vida e ele seria um homem livre. Zorã—que se tornou uma segunda testemunha essencial desta poderosa libertação – fez seu próprio juramento, encorajado pelas palavras de Néfi, de que ele iria permanecer com eles. (Ver 1 Néfi 4:28-35.)
Seria difícil para qualquer um dos irmãos pensar que não foi o poder de Deus que lhes tinha entregue as placas. Mas eles não sabiam por que esse registro era tão importante para exigir a vida do iníquo Labão.
Como as visões expandiram a perspectiva de Néfi
Mais tarde, seguindo a importante visão de Leí sobre a árvore da vida, Néfi teve uma visão semelhante do ministério do Salvador entre os judeus, a história de seu povo, e um vislumbre das nações e reinos dos gentios nos últimos dias (ver 1 Néfi 11-14). Em cada caso, ele viu que o resultado para todas estas pessoas dependia de aceitar Jesus Cristo. Deve ter ficado claro para Néfi que, sem a palavra de Deus contida nas placas de latão, sua posteridade não estaria preparada para encontrar Cristo (veja Mosias 1:3-4).
Considere o exemplo dos mulequitas, um grupo que deixou Jerusalém depois de Leí. Eles não tinham nenhum registro sagrado. Quando eles foram encontrados pelos nefitas anos mais tarde, seu idioma tinha se corrompido e eles negavam seu Criador. (Ver Ômni 1:15-17.) Isso é o que provavelmente teria acontecido com a família de Leí se eles não tivessem recuperado as placas de latão.
Outra verdade que ressaltou a importância futura das placas de latão para Néfi foi a sua visão sobre as verdades simples e preciosas sendo tiradas do registro dos judeus (ver 1 Néfi 13:23-29). Esta perda faria com que muitos nos últimos dias tropeçassem espiritualmente e Satanás ganhasse grande poder sobre eles (ver 1 Néfi 13:29, 34).
A melhor solução para este dilema foi o Livro de Mórmon. Ele contém muitas das verdades simples e preciosas que estavam nas placas de latão e que já estiveram no registro original dos judeus, a Bíblia. As placas de latão se tornaram uma fonte de inspiração para gerações de profetas nefitas. Sem elas, eles “teriam degenerado, caindo na incredulidade; e [teriam] sido como […] os lamanitas” (Mosias 1:5). Não haveria nenhum registro nefita correto para ser trazido nos últimos dias para ajudar o mundo a entender a verdadeira doutrina de Cristo. Não haveria Livro de Mórmon como o conhecemos.
Libertação para todos
Com esta perspectiva precisa de revelação, Néfi veio a entender por que ele deveria obter as placas da maneira como aconteceu. Quando Deus entregou Labão e as placas de latão a Néfi, Ele estava entregando as verdades preciosas do evangelho a todos os que, por fim, lessem o Livro de Mórmon. Estas verdades estão centradas no Salvador e Libertador, Jesus Cristo. É Cristo que oferece a libertação mais profunda a todas as pessoas—libertação do pecado e da morte—por meio de Seu sacrifício expiatório e da vida eterna no mundo vindouro.
Fonte: ChurchOfJesusChrist.org