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O que a ciência fala sobre experiências de quase morte

Pode-se dizer que o interesse generalizado no que é hoje tipicamente chamado de “experiências de quase morte” começou com a publicação do livro best-seller de Raymond Moody, “Life After Life”, em 1975.

Na verdade, Moody leva o crédito pela criação do termo “experiência de quase morte”; no mínimo, por colocá-lo em uso comum.

Dr. Raymond Moody sua primeira experiência de quase morte

Moody já tinha obtido um doutorado em Filosofia pela Universidade da Virgínia alguns anos antes, e iria receber um diploma da Faculdade de Medicina da Geórgia no ano seguinte à publicação de seu livro.

Seu interesse no assunto surgiu quando ele ouviu uma palestra do proeminente psiquiatra George Ritchie, de Richmond, Virgínia.

O Dr. Ritchie contou uma experiência complexa que passou aos vinte anos, durante treinamento básico do Exército 1943.

Ele disse que tinha morrido clinicamente por quase nove minutos, onde reporta que estava consciente apesar de não estar consciente. E enquanto seu corpo estava inerte em um hospital militar, ele fez uma longa viagem.

Moody dedicou “Life After Life” ao Dr. Ritchie, e Ritchie contou sua própria história em “Return from Tomorrow”, publicado em 1978.

Desde então, livros e artigos de vários tipos continuam a ser publicados sobre o tema das experiências de quase morte.

Infelizmente, as pesquisas do Dr. Moody e de outros criaram um modelo, uma espécie de lista de verificação ou manual de instruções que visam somente o lucro.

Contudo, há bons materiais sobre o assunto. Um destes é um livro escrito pelo Dr. Pim van Lommel, que trabalhou como cardiologista por 26 anos (1977-2003).

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O recém formado Dr. Pim van Lommel

Em 2001, junto com três coautores, o Dr. Pim publicou um estudo em larga escala na prestigiada revista médica de Londres “The Lancet” sobre experiências de quase morte que ocorrem após uma parada cardíaca.

Seu interesse em experiências de quase morte começou, no entanto, com uma história pessoal.

O médico assistente

“Estamos em 1969.  Na unidade de cuidados coronários, o alarme dispara de repente.  O monitor mostra que o eletrocardiograma de um paciente com um infarto do miocárdio (ataque cardíaco) teve uma parada cardíaca.

O homem sofreu uma parada cardíaca.  Duas enfermeiras apressam-se até o paciente, que já não responde, e rapidamente fecham as cortinas em torno de sua cama.  Uma das enfermeiras começa a reanimação enquanto a outra coloca uma máscara na boca do paciente e administra oxigênio.

Uma terceira enfermeira corre com o carrinho de reanimação que contém o desfibrilador.  O desfibrilador está carregado, as pás estão cobertas de gel, o peito do paciente é exposto, a equipe médica se afasta do paciente e da cama, e o paciente é desfibrilado.

Ele recebe um choque elétrico no peito.  Não tem efeito.  A massagem cardíaca e a respiração artificial são retomadas e, em consulta com o médico, a medicação extra é injetada no soro.

Então, o paciente é desfibrilado pela segunda vez.  Desta vez seu ritmo cardíaco é restabelecido, e mais de um minuto depois, após um período de inconsciência que durou cerca de quatro minutos, o paciente recupera a consciência, para o grande alívio da equipe de enfermagem e do médico assistente.

Aquele médico assistente era eu.  Comecei minha residência em cardiologia naquele ano.

O paciente

Após a reanimação bem-sucedida, todos ficaram satisfeitos. Todos, menos o paciente.  Ele tinha sido revivido com sucesso, mas, para surpresa de todos, ele estava extremamente desapontado.

O paciente falou de um túnel, cores, uma luz, uma bela paisagem, e música.  Ele estava extremamente emotivo.

O termo “experiência de quase morte” ainda não existia, e eu nunca tinha ouvido falar de pessoas que lembravam do período de sua parada cardíaca.

Enquanto estudava para o meu diploma, eu tinha aprendido que tal coisa é de fato impossível: estar inconsciente significa estar inconsciente — e o mesmo se aplica a pessoas que sofrem uma parada cardíaca ou pacientes em coma.

Em tal momento é simplesmente impossível estar consciente ou ter memórias porque toda a função cerebral cessou.

Em caso de parada cardíaca, o paciente está inconsciente, já não respira e não tem pulso ou pressão arterial palpáveis”.

No entanto, o impossível parecia ter acontecido.  E o Dr. Pim tem pensado nisso, e em relatos semelhantes, desde então.

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Dr. Bruce Greyson e o molho de tomate

Da mesma forma, o livro ainda recente de Bruce Greyson “After: a Doctor Explores What Near-Death Experiences Reveal about Life and Beyond” começa com uma história pessoal motivadora.

Primeiro, vamos conhecer um pouco sobre ele. O Dr. Greyson, uma das principais autoridades vivas em experiências de quase morte, é Professor Emérito de Psiquiatria e Ciências neurocomportamentais da Universidade da Virgínia.

Antes de ingressar na faculdade na Virgínia, ele lecionou nas escolas de Medicina da Universidade de Michigan e da Universidade de Connecticut.

O Dr. Greyson relata que não foi criado em uma família religiosa e mesmo hoje, não há sinais de que ele seja religioso, o que deixa ainda mais interessante o relato presente nas primeiras páginas de seu livro.

“Cinquenta anos atrás, uma mulher que tinha acabado de tentar se matar me disse algo que desafiou o que eu pensava que sabia sobre a mente e o cérebro, e sobre quem nós realmente somos”.

Ele recorda que estava comendo espaguete no hospital quando seu pager disparou e ele se assustou.  Ele estava apenas alguns meses fora da Faculdade de Medicina, e ele tinha sido imerso em um manual de psiquiatria de emergência.

Com o susto, ele salpicou molho de tomate em seu livro e sua gravata.  Como um novo médico, ainda um pouco inseguro, ele estava tentando parecer profissional — e esta não era a imagem que ele queria passar.

Holly

O pager tocava em relação a um paciente na emergência que havia tido uma overdose. Holly, nome atribuído a paciente, era uma estudante universitária do primeiro ano, e tinha sido levada para o hospital pela colega de quarto. A colega de quarto também queria conversar com ele.

O Dr. Grayson vestiu um jaleco branco e o abotoou-a para esconder a mancha de molho de tomate na gravata.  Ele correu para a emergência, para ver como estava a Holly.  Ela estava estável, mas inconsciente.

Uma “cuidadora” a observava.  (Esta era uma precaução de rotina para pacientes psiquiátricos na emergência). A “cuidadora” indicou que ela estava inconsciente o tempo todo.

Depois de examiná-la brevemente, o Dr. Grayson foi conversar com a colega de quarto que estava à espera.  O quarto estava quente e abafado, e ele logo moveu o ventilador um pouco mais para perto e desabotoou seu jaleco.

Eles conversam por algum tempo, incluindo informações específicas sobre drogas e medicamentos em seu apartamento, mas a colega de quarto precisava sair para trabalhar em um jornal da faculdade.

Quando ela saiu, o Dr. Grayson abotoou o jaleco outra vez, para que ninguém na emergência visse a mancha de tomate na gravata. Ele voltou para ver a Holly.

A “cuidadora” ainda estava lá, ela ainda estava inconsciente, e a “cuidadora” relatou que não havia nenhuma mudança.  O Dr. Grayson foi para casa.

“Eu não poderia ignorar”

Quando voltou na manhã seguinte, às 8 da manhã, ele soube que Holly havia acordado, embora ainda estivesse sonolenta.  Então ele seguiu pelo corredor para ver como ela estava novamente.

Ele apresentou-se.  Ela respondeu dizendo que nenhuma apresentação era necessária, ela disse que o reconheceu, da noite anterior.

Ele estava atordoado.  Como é que isso era possível?  Ela explicou que o tinha visto conversando com sua colega de quarto.

E isso, lembre-se, aconteceu durante um tempo em que ela estava inconsciente em uma cama de hospital no outro lado de um longo corredor, e sendo vigiada 24 horas por dia.

“Você estava usando uma gravata listrada que tinha uma mancha vermelha”, disse ela. Ela foi capaz de relatar sua conversa com o colega de quarto com grandes detalhes, e até lembrou que ele moveu o ventilador

Preocupado com o seu estatuto de médico recém-formado, o jovem Dr. Grayson não falou com ninguém sobre o que tinha acontecido, e não incluiu em seu relatório sobre o caso.  “Só queria que desaparecesse”, lembra-se.,

“Tão desesperadamente quanto eu queria apagar da minha memória todo o meu encontro com Holly, ele escreve, “Eu já era cientista o suficiente para saber que eu não poderia simplesmente ignorar”.

Fingir que algo não aconteceu só porque não conseguimos explicar é exatamente o oposto da ciência.

A minha busca para encontrar uma explicação lógica para o enigma da mancha de espaguete levou-me a meio século de pesquisa.

E não respondeu a todas as minhas perguntas, mas levou-me a questionar algumas das minhas respostas. E em breve iria levar-me para um território que nunca poderia ter imaginado”.

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Há vida após a morte

Alguns céticos sugerem que apenas as pessoas religiosas estão predispostas, ou mesmo pré-programadas, a acreditar em uma vida após a morte.

E serão persuadidas de que as experiências de quase morte refletem a realidade objetiva, que elas demonstram uma distinção entre mente e cérebro e podem até oferecer um vislumbre do mundo vindouro.

Porém, está claro que esta não é uma verdade no caso do Professor Greyson. E se há alguma razão para acreditar que o Dr. Pim seja religioso, não estou ciente disso.

Há falsas alegações de experiências de quase morte? Sim. Todas essas alegações são falsas?  Claro que não.

Mas elas descrevem a realidade objetiva?  Elas demonstram que a mente não é redutível ao cérebro físico?  Sugerem a possibilidade de a personalidade humana sobreviver à morte?

Um forte argumento pode ser feito para esse efeito: milhares e milhares de relatos já foram coletadas.

Várias centenas deles incluem características que parecem impossíveis de explicar com base em uma visão de mundo reducionista, naturalista, materialista.  E se mesmo um deles é verdadeiro, o ateísmo naturalista é falso.

“Se vos alterar a lei que todos os corvos são negros”, disse o grande filósofo e psicólogo William James da Universidade de Harvard, que tinha um profundo interesse em tais questões como “saber extraordinário” e sobrevivência do ser humano da morte, “não erraria… bastaria vos provar que existe um branco”.

Este artigo é uma tradução do artigo intitulado Making a Life Out of Near-Death Experiences escrito por Daniel C. Peterson e publicado na Meridian Magazine.

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