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O que dizer quando um membro da família se assume gay?

Pela experiência da minha família, os membros da Igreja tendem a usar frases comuns que, embora usadas com a melhor das intenções, podem marginalizar em vez de ajudar alguém que se assumiu LGBTQIA+.

Lembro-me de me sentir muito dividida. Eu estava fazendo uma campanha para ser eleita prefeita e estava me reunindo com vários líderes locais para solicitar seu apoio. Enquanto expandia meu círculo de associações, percebi quantos de meus colegas da comunidade eram abertamente gays.

No começo, senti uma pontada de culpa. Eu estava traindo minha condição de membro da Igreja ao compartilhar uma refeição com pessoas que se identificavam como gays? Eu estava tolerando abertamente um comportamento inadequado?

No entanto, à medida que conheci membros da comunidade LGBTQIA+ em um nível humano, passei a apreciar o quanto temos em comum e percebi que eles não se encaixavam no modelo estereotipado que eu havia sido ensinada em minha educação cultural.

Eu não poderia saber na época, mas esse amolecimento do meu coração estava me preparando para quando meu próprio filho adolescente se assumisse gay apenas algumas semanas depois de eu ser eleita prefeita.

Nosso filho Kyle se abriu para nossa família sobre sua atração pelo mesmo sexo quando ele tinha dezesseis anos. Ele não estava sendo rebelde ou escolhendo uma tendência popular. Ele estava sendo simplesmente honesto. Por mais que ele tentasse suprimir sua natureza, ela simplesmente não iria ou podia ir embora.

As palavras ‘eu sou gay’ e a nossa família

Meu maior medo quando Kyle disse as palavras “Eu sou gay” foi perdê-lo. Perdê-lo dentro do evangelho, de um relacionamento com Deus e de nossa família. Mais do que tudo, eu queria ter certeza de que ele ficasse protegido em nosso ninho familiar.

Eu gostaria de poder dizer que lidei com a notícia como uma profissional, mas não o fiz. Quando contei aos irmãos mais novos de Kyle, os olhares em seus rostinhos assustados pareciam como se eu tivesse acabado de falar que seu irmão havia morrido em um trágico acidente.

Isso marcou o primeiro de muitos momentos em que percebi o buraco distorcido em que nos enfiamos, e senti vontade de jogar minhas mãos para cima e implorar, “Podemos apenas nos acalmar? Isso não é um funeral!”

A vergonha involuntária de membros de nossa família e membros da Igreja — tanto antes quanto depois dele se assumir — estava levando Kyle a um lugar perigosamente sombrio. Durante nosso processo de tentar entender melhor Kyle, a atração pelo mesmo sexo e os ensinamentos da Igreja, ficou aparente o quão inadequadamente muitos de nós estamos entendendo e amando nossos filhos LGBTQIA+.

Enquanto nossa família dançava delicadamente na fase “o que fazemos agora que temos um filho gay”, havia algumas pessoas em nossa comunidade na Igreja que eram incrivelmente maravilhosas, que expressaram como a notícia de Kyle não mudou nada para eles. A maioria das pessoas evitou de forma desajeitada o assunto, preferindo não falar sobre isso.

A comunidade

E depois havia aqueles que sinceramente achavam que estavam ajudando, mas suas reações e comentários equivocados causaram muito mal.

Um amigo disse: “Sinto que devo prestar meu testemunho a vocês de que a proclamação sobre a família é verdadeira.” Senti vontade de dizer: “Ainda acredito que a proclamação sobre a família é verdadeira também!” Outros ofereceram remédios de ervas ou números de telefone para terapia cognitiva.

No lado mais extremo, nos entregaram livros de décadas sobre a abominação satânica da homossexualidade que foram marcados e destacados. Alguém apertou a campainha em nossa varanda, saiu correndo e deixou pilhas não solicitadas de literatura sobre como superar o vício em pornografia.

Perguntaram-nos o quão “envolvidos” estávamos no movimento LGBTQIA+ porque nossos amigos de longa data não tinham mais certeza se nossos filhos deveriam brincar juntos.

Considerando até que ponto a Igreja chegou ao tentar entender e aceitar melhor os membros que sentem atração pelo mesmo sexo ou se identificam como gays, lésbicas ou bissexuais, essas reações insensíveis e desinformadas foram dolorosas e alienantes.

A minha esperança

Ainda maior tem sido a dor de nossos jovens, que estão tentando descobrir como e se eles têm um lugar em nossa religião.

Muitos não estão firmando os pés com segurança dentro das paredes de nossas casas, locais de adoração e comunidades em geral.

Minha esperança para Kyle e outros membros vulneráveis é que possamos aceitá-los melhor e amá-los incondicionalmente, em vez de excluí-los, pois estão lutando com sentimentos e dificuldades complicados.

No site da Igreja “Atração pelo mesmo sexo”, Carol F. McConkie diz em um vídeo intitulado “Elevar outros”:

“Nós não podemos ser— ou mesmo nos chamar— de discípulos de Cristo se não estamos ajudando outros ao longo do caminho. O evangelho de Jesus Cristo não marginaliza as pessoas. Pessoas marginalizam pessoas. E temos que consertar isso.”

Pela experiência da minha família, os membros da Igreja tendem a usar frases comuns que, embora usadas com a melhor das intenções, podem marginalizar em vez de ajudar alguém que se assumiu LGBTQIA+.

Kyle com certeza entende a importância das palavras que usamos. “Há tantos jovens neste mundo que escondem uma parte tão incrível e bonita deles”, ele diz. “Lembre-se de que suas palavras são muito importantes para as pessoas que te admiram, então escolha-as com cuidado. Escolha amar.”

Aqui estão algumas coisas que membros podem dizer ou fazer quando interagem com pessoas queridas que se assumem LGBTQIA+:

“Você pode compartilhar sua história comigo?”

Em vez de dizer: “Você vai conseguir vencer isso”— o que pode dar a impressão de estar falando: “Tem algo de errado com você que precisa ser superado, e para se encaixar como um santo dos últimos dias você precisa se livrar disso”— considere apenas perguntar “Você pode compartilhar sua história comigo?” Ser gay, em si, não é algo que “vencemos.”

O site da Igreja responde a pergunta “Se eu for fiel o suficiente, minha atração pelo mesmo sexo vai sumir?”

E a resposta é: “A intensidade da atração pelo mesmo sexo não é medida de sua fidelidade. Muitas pessoas oram por anos e fazem tudo que podem para serem obedientes em um esforço para diminuir essa atração; mesmo assim, elas descobrem que ainda se sentem atraídas pelo mesmo sexo. A mudança de atração não deveria ser exigida ou esperara por pais ou líderes como algum resultado.”

A medida que tentamos entender melhor a atração pelo mesmo sexo, é importante ter empatia pelo que aqueles que se identificam como LGBTQIA+ estão passando e com compaixão fazer perguntas como, “Como você está se sentindo com tudo isso?” e “O que você gostaria que as pessoas soubessem sobre a sua identidade?”. Perguntar com uma mente aberta em vez de “amá-los” tentando mudar quem eles são.

“Você é uma pessoa incrível”

Quando dizemos coisas como, “Enquanto você não sucumbir a isso, não é um pecado”, nós focamos apenas no comportamento sexual, e não na pessoa por completo. Muitas vezes, a palavra gay é cegamente associada apenas ao comportamento romântico.

Pessoas LGBTQIA+ são como qualquer um: eles desejam viver de forma compassiva e ter um impacto positivo no mundo. Todos são abençoados com incontáveis atributos maravilhosos, sendo gay ou não, que os fazem seres humanos únicos. Orientação sexual é apenas uma parte da identidade deles.

Meu filho Kyle, por exemplo, é muitas coisas. Algumas ótimas. Outras nem tanto. Seu atletismo deu a ele um lugar inicial no time de futebol do colégio enquanto ele era calouro no ensino médio; sua equipe do coro ganhou o campeonato estadual; ele foi eleito presidente do conselho estudantil; ajudou a começar uma campanha de caridade; ele se formou com nota máxima em todas as matérias e suas fotos foram destacadas por páginas de mídias sociais renomadas. Tudo isso o torna um garoto incrível… que por acaso também é gay.

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“Isso deve ser muito difícil”

Ao falar com membros LGBTQIA+, ajuda muito reconhecer o quão difícil as experiências deles provavelmente têm sido. É também de grande ajuda reconhecer que as experiências deles são muito diferentes da de outros membros.

Por exemplo, dizer: “todos nós temos fraquezas a superar”, é uma verdade para cada um de nós. No entanto, provavelmente não é uma declaração útil ou verdadeira que se aplique à orientação sexual de uma pessoa.

A menos que você tenha uma “fraqueza” que é dita como causadora da destruição de cidades inteiras com fogo e enxofre, ou que tenha impactado suas oportunidades de emprego e moradia, talvez você não seja capaz de entender completamente o que uma pessoa LGBTQIA+ esteja passando.

Em vez disso, ofereça reconhecimento pelos sentimentos únicos que membros LGBTQIA+ estejam tendo. Quando Kyle e eu fomos entrevistados para um estudo universitário sobre microagressões dentro da Igreja, foi a primeira vez em dois anos que eu consegui falar honestamente sobre nossas experiências depois que Kyle se assumiu gay.

Uma declaração simples do entrevistador foi surpreendentemente avassaladora: “Deve ter sido muito difícil”. Anos de ansiedade, dor e traição foram tirados dos nossos ombros. Aquela simples declaração de um total estranho finalmente nos colocou em um caminho de cura.

O que mais posso dizer? Isso é fácil!

“Você está seguro comigo”

Nunca esquecerei o primeiro domingo que Kyle foi à Igreja depois de se assumir. Ele não estava animado. Nem um pouco. Todos nós estávamos nervosos. No entanto, assim que a reunião sacramental terminou, o professor da escola dominical dele veio e lhe deu um grande abraço. O gesto falou por si só.

Ao continuar sendo um amigo amoroso, nós não estamos traindo nossa religião nem se inscrevendo para marchar na próxima parada LGBTQIA+. Nós estamos apenas dizendo: “Você está seguro perto de mim, eu me importo com você”.

Élder Quentin L. Cook disse: “Como igreja, deveríamos ser os mais amorosos e solidários. Que estejamos a frente em termos de expressão de amor, compaixão e doação. Que não tenhamos exclusões familiares ou sejamos desrespeitosos com aqueles que escolhem um estilo de vida diferente como resultado de seus sentimentos em relação ao seu próprio gênero.”

“Desculpa por te magoar”

À medida que lidávamos com a situação de Kyle, nossa família disse muitas coisas equivocadas ao longo dos anos que gostaríamos de retirar se pudéssemos. Um pedido de desculpas a Kyle foi o que deu início ao processo de cura e recuperação de nosso relacionamento.

Pode ser difícil e exigir humildade, mas um pedido de desculpas pode fazer uma grande diferença ao começar a reconstrução da confiança e do entendimento.

Para nós, não foi apenas um “me desculpa” e pronto, mas um processo de conversas francas, procura de aconselhamento profissional e de simplesmente tentar fazer melhor. Por sorte, o esforço, mesmo sendo atrapalhado e estressante às vezes, foi o suficiente para Kyle.

Como o site da Igreja diz: “Como membros da Igreja, todos temos a responsabilidade de criar um ambiente solidário e amoroso para todos nossos irmãos e irmãs. Essa rede de suporte faz com que seja muito mais fácil viver o evangelho e buscar o Espírito enquanto navegamos por qualquer aspecto da mortalidade”.

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“Pode ser paciente comigo?”

Provavelmente os membros LGBTQIA+ levaram um bom tempo para se abrirem em relação a sua orientação sexual, e provavelmente você levará um tempo para entender completamente o que eles estão passando.

É muito possível que você cometerá alguns erros ao longo do caminho, e está tudo bem. Você pode reconhecer essa realidade para ambos os lados. “Precisamos ser pacientes uns com os outros enquanto descobrimos as coisas juntos”, diz o site da Igreja.

“Você pode viver uma vida cheia de alegria e propósito”

Como eu queria que Kyle soubesse disso desde o início de sua luta. Em nossa primeira conversa quando Kyle se assumiu, ele chorou: “Isso significa que terei uma vida cheia de miséria e tristeza?” Essa amarga frase me assombra.

Eu fiquei de coração partido ao saber que, às vezes, Kyle era incapaz de só estacionar do lado de fora de um prédio da igreja com intenções de apenas jogar basquete sem que se lembrasse de algum trauma.

Quão diferente seria o senso geral de paz de Kyle se em nossos primeiros anos de conversa focássemos na habilidade que pessoas LGBTQIA+ têm de ter uma vida feliz e saudável, mesmo dentro da Igreja, se eles escolherem esse caminho, e que são capazes de segui-lo.

O Élder Whitney L. Clayton esclarece: “Eu agora falo diretamente aos membros da Igreja que têm atração por pessoas do mesmo sexo ou que se identificam como gays, lésbicas ou bissexuais. Nós queremos que façam parte das nossas congregações. Vocês têm grandes talentos e habilidades a oferecer no reino de Deus na Terra, e reconhecemos as contribuições valiosas que vocês fazem. Se qualquer um de vocês tem dúvidas sobre como a Igreja se posiciona sobre esse assunto, os convidamos a verem, por favor, o material publicado em ChurchofJesusChrist.org/topics/gay.”

Posso confiar em Jesus Cristo

Ainda há muitas coisas que eu não sei ou não entendo sobre a atração por pessoas do mesmo sexo e sua relação com a doutrina de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. O que eu sei é que posso ter fé de que o plano de Deus é perfeito e posso confiar em Jesus Cristo.

Eu nunca acreditaria, mas eu sou grata de verdade por Ele ter me abençoado com um filho gay. Isso me mudou para melhor, obrigando-me a ficar cara a cara com as minhas deficiências e a começar a sentir na pele como grupos marginalizados se sentem.

À medida que nos abrirmos para oportunidades de humildemente examinar esse assunto complicado, podemos começar a ver as pessoas de verdade por trás do rótulo LGBTQIA+ e descobrir nossa humanidade em comum.

Podemos encontrar meios de agir de maneira autêntica com bondade e inclusão, honestamente amando uns aos outros, e perceber que o que dizemos importa. E muito.

Fonte: LDS Living

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