MaisFé.org

Primeiro este homem gay queria protestar contra a Igreja – agora ele é um membro dela

Dennis Schleicher sabia que era alguém diferente desde bem jovem. Ele só não sabia que sofreria bullying e perseguição por simplesmente ter atração por pessoas do mesmo sexo.

“Nós sabemos que você é gay”, Dennis lembra as acusações e o veneno na voz de sua mãe quando ele era adolescente. Em um episódio do podcast de Richard Ostler, “Listen, Learn & Love”, Dennis explicou que não era a primeira vez que ele ouvia o desgosto que sua mãe (de outra religião) tinha por aqueles da comunidade gay; ela freqüentemente detalhava como casais homoafetivos queimariam no inferno.

“Eu sou mesmo”, deixou escapar, afirmando a acusação de sua mãe. Ele não tinha idéia de que apenas alguns dias depois seria vítima de outro ataque – desta vez físico.

Aos 17 anos,em sua escola em Connecticut, Dennis inocentemente foi usar o banheiro. Antes que ele pudesse entender o que estava acontecendo, ele foi jogado contra a parede e brutalmente espancado por cinco estudantes – tudo porque eles suspeitavam que Dennis era homossexual, algo que nem mesmo ele havia falado às pessoas.

Quando ele chegou na diretoria da escola, eles o informaram: 

“Se você parasse com isso de ser ator (Dennis estrelou comerciais e uma novela durante sua adolescência) e ficasse com garotas no corredor, não teríamos esse problema.” 

Em vez de reconhecer Dennis como vítima de um crime desprezível de ódio, a escola tentou inverter a narrativa: Dennis merecia esse tratamento. Eles o suspenderam por cinco dias.

Dennis ficou abismado – assim como Sally Jessy Raphael, uma famosa apresentadora de talk shows. Quando ela entrou em contato com Dennis para convidá-lo ao seu programa de TV, ele recusou a oferta. Mas quando um orientador lhe disse que 58% de toda a violência que ocorreu em escolas públicas em 1988 (o ano anterior do ataque à Dennis) eram sobre questões de orientação sexual, bem como 33% de suicídios, Dennis rapidamente mudou de ideia. 

Percebendo o bem que ele poderia fazer para ajudar outros que estavam lutando contra as mesmas coisas, ele tomou coragem e se tornou uma voz para aqueles que não podiam falar.

Embora os anos tenham se passado e muito tenha mudado em sua vida, Dennis continuou a mesma pessoa: alguém disposto a defender o que acredita, mesmo que existam consequências pessoais, e lutar pelo o que é certo – e para ele, o que é a coisa mais certa do mundo é que Deus ama cada um de nós, independentemente de nossa orientação sexual, gênero, raça ou qualquer outro fator.

E é exatamente por isso que, em 2017, ele se filiou À Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias – e também é esse o motivo pelo qual ele está prestes a publicar um livro sobre sua história de conversão.

Como você conheceu a Igreja?

Eu escutei seu podcast com Richard Ostler e foi incrível. Eu me lembro que você disse que seu amigo lhe deu o livro “More Than a Tattooed Mormon” de Al Carraway – Foi assim que você foi apresentado à Igreja?

Então, as pessoas me perguntaram: “Foi a dedicação do Templo de Hartford em 2016 que fez com que você se unisse à Igreja?” E eu respondi, “É óbvio que não!” Ao passar perto daquele lugar, eu queria mesmo começar um protesto defendendo o movimento LGBT! Eu estava pensando, “Por que as pessoas estão fazendo fila para ir àquele culto racista, homofóbico e desinformado?”

Então, em junho de 2017, um dos clientes da empresa que trabalho me convidou para ir à Palmyra. (Ele e sua esposa deram a Dennis o livro “More Than a Tattooed Mormon” durante aquela viagem, mas ele só leu depois de quase um ano.) Eu disse: “Ah, tudo bem”, mas dentro de mim estava pensando “Como vou me livrar disto? Eles são loucos! Eu não quero ir a Palmyra! ” Então eu falei com Deus e disse: “Eu não quero ir. Eu não quero estar aqui. Eu não quero ser colocado no meio disso.”

Então terminei minha oração e liguei meu iTunes. Estava no meio do nada, sem sinal, e todos as minhas músicas estavam na nuvem. Eu pensei: “Só pode ser brincadeira”, mas de repente, eu senti que deveria ouvir o rádio. 

A primeira estação que apareceu foi uma estação cristã e a música que tocou foi “I Can Only Imagine” da MercyMe. Meus pais são fundamentalistas de uma igreja cristã renascida e MercyMe tocou no funeral do meu irmão mais novo em 2004, quando ele faleceu de uma overdose de drogas. Eu sempre falei com meu irmão e sempre soube que ele estava comigo. Naquele momento, senti o carro ficar cheio do Espírito Santo e eu sabia que precisava saber mais sobre essa igreja.

A religião mais incompreendida

Você disse anteriormente que acha que A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é a religião mais incompreendida de todos os tempos. O que lhe faz afirmar isto?

Pouco depois de ser batizado, recebi um chamado como missionário da ala. E pensei: “Por que eu? Eu nunca servi uma missão.” Mas então eu comecei a receber ligações para ensinar pessoas que estavam fora da minha área. Os missionários que me ensinaram foram transferidos. Então, 99% das visitas que eu faço (eu fiz 17 na semana passada) são pessoas que não querem se unir à nossa Igreja porque elas têm a ideia de que não aceitamos e amamos todas as pessoas. 

Elas têm a mesma ideia que eu tive porque eu procurava no Google sobre as coisas negativas da Igreja. Eu não visitei o site oficial da Igreja – eu queria saber o que os documentários estavam dizendo, ou assistiria a todas as coisas que aconselhamos as pessoas a NÃO assistir.

Quando os missionários começaram a me ensinar, eu os levei para almoçar no Panera Bread e só disse: “Eu sou gay”. Os dois começaram a chorar e disseram: “Tudo bem. Nós amamos você e aceitamos isso.” E foi isso que os donos da empresa onde trabalho também disseram. (eles eram Santos dos Últimos Dias).

Eu estava no telefone com minha amiga Shelby, uma das proprietárias da empresa, e eu disse: “Eu ouvi dos meus pais por anos, de que eu vou para o inferno e que Jesus me odeia.” Ela disse, “Pode parar com isso, Dennis. Para agora! Jesus realmente ama você. Ele ama todas as pessoas.” E eu comecei a chorar. Acho que as pessoas não entendem que nossa Igreja prega isso – que Jesus ama a todos nós, não importa a circunstância.

Como você se sentiu quando um membro dos Setenta sugeriu que você escrevesse um livro?

Com certeza! Há vários meses atrás, você foi contatado por um membro do quórum dos 70 para escrever um livro sobre sua história de conversão. Como você se sentiu quando ele sugeriu que você escrevesse um livro?

Então, em nossa conferência de estaca, essa autoridade geral veio e o bispo me disse que eu tinha uma reunião com ele. Então eu me encontrei com ele e pensei: “O que será que eu fiz? Por que estou aqui?”

Ele apenas olhou para mim e disse: “Filho, eu ouvi que você tem uma história de conversão e tanto.” E eu disse: “Eu sou uma converso gay!” Eu falei sem nem pensar, e na minha cabeça, eu pensei, “Dennis! Você precisa fechar a boca! Minha nossa!” 

Mas eu disse a ele que foram os membros da Igreja que me disseram que Deus ama e aceita todas as pessoas, e isso era algo que eu não ouvia há anos.

Então, quando eu compartilhei isso com ele, ele se aproximou, ofereceu-me uma bênção de conforto e disse: “Seu chamado será maior do que você jamais imaginaria.” Então ele disse: 

“Estou sentindo que devo perguntar-lhe, o que seus amigos LGBT te disseram quando você se converteu?” 

E eu disse: 

“Todos eles disseram: ‘Você está louco? Eles vão querer casar você com uma mulher em pouco tempo’ ou ‘Eles vão colocar você em uma terapia de conversão!’” 

Foi quando a autoridade geral disse: 

“Bem, é por isso que eu quero que seu próximo livro seja intitulado: ‘Ele é louco? Por que um homem gay se tornaria membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias?’”

Então pensei: “Ta doido? Não entrei na Igreja para escrever um livro! Eu não vou fazer isso!”

Como você adquiriu o desejo de escrever o livro?

Inicialmente, ignorei a sugestão dele, mas então algo aconteceu. Depois de ouvir várias vezes que eu precisava ler, eu baixei o audiobook do livro “More Than a Tattooed Mormon” e eu o escutei a caminho de uma visita de ensino na qual demoraria duas horas para chegar, perto da fronteira de NY. Eu pensei: “Minha nossa! Essa mulher está contando minha história!”

Então comecei a escrever meu livro. Eu tenho experiência com editoras e conheço praticamente todos os agentes literários da costa leste e muitos que são da Califórnia, e eles me promoveriam em um piscar de olhos. Mas eu simplesmente não queria que meu livro fosse enviado para um dos Big Five – as cinco maiores editoras dos Estados Unidos. 

Eu não queria que eles destruíssem nossa Igreja e fizessem com que ela parecesse ruim. Eu nem sequer achava que tínhamos uma editora Santos dos Últimos Dias.

Naquele dia, quando eu estava ouvindo o audiobook, eu pensei: “Al Carraway tem que escrever o prefácio do meu livro.” Eu nem sequer a conhecia; não sabia que ela é a palestrante Santos dos Últimos Dias mais requisitada no mundo. Então eu disse: “Ela vai escrever o prefácio e meu livro vai ser publicado com a editora que publicou o livro dela”

Então eu liguei para aquela editora e deixei uma mensagem. Recebi uma ligação duas semanas depois e conversamos por duas horas. Me disseram: 

“Esta é uma história incrível. Nós queremos isso. Eu vou entregá-lo a nossa editora-chefe de aquisições. Pode demorar um pouco até ela retornar o contato; ela está ocupada.” 

Em 20 minutos, recebi um e-mail dela dizendo: “Sou responsável por seu livro.”

E esse tipo de coisa não acontece em editoras.

Isso realmente não acontece! Foi o Pai Celestial. Então foi quando eu aceitei escrever o livro, além de dar palestras e devocionais.

Quais são algumas das coisas que você espera alcançar com este livro?

Fiz algumas pesquisas quando escrevi o livro. A Igreja está perdendo muitos jovens da geração da Internet (Millennials). Um dos maiores propósitos do meu livro e de meus devocionais e serões que participo é que estou em uma cruzada para impedir essa perda. Quero compartilhar meu testemunho do evangelho e mostrar que, se posso lidar com as coisas com as quais lidei, as pessoas que estão lendo podem superar qualquer coisa também.

A coisa é, a pessoa normal não acorda e diz: “Eu não vou mais ser um membro”. Demora 2-4 anos antes de eles se afastarem, e outra coisa que eu espero fazer, com este livro e meus serões, é ajudar as pessoas a identificarem quando alguém está perdendo seu testemunho.

Então, elas podem enviar mensagens para as pessoas que não estiverem nas reuniões – eles podem dizer: “Ei, senti sua falta hoje”. Ou talvez: “Ei, quero ir ao templo; você vem comigo?” 

Não se trata de encontrá-los no templo – trata-se de buscá-los, estar no carro com eles e conhecê-los.

Documentário

Eu amo isso e estou tão feliz que você esteja compartilhando sua experiência com o mundo. Você tem até uma equipe de documentários seguindo você pelo país enquanto você lança o seu livro!

Sim, e isso é realmente uma história engraçada. Uma amiga minha cortou relações comigo porque ela não conseguia acreditar que eu havia entrado para a Igreja. Um dia, porém, ela estava orando e disse: “Espere um minuto. Dennis é uma pessoa incrível. Eu tenho que ouvir o lado dele da história.” 

Ela trabalha com uma empresa chamada Big M Entertainment que faz muitas séries de documentários para o Discovery Channel, OWN e outros lugares, e eles queriam filmar minha história. Eles têm um orçamento para fazer 15 dias de filmagem.

Eles deixaram bem claro que querem uma experiência tranquila, porque eles estão cansados de algumas situações. Na verdade, está em meu contrato que será um documentário positivo. Algo para aprender com isso é não julgar as pessoas até que você faça perguntas.

Onde esse documentário vai ao ar?

Eles ainda não têm certeza onde ele vai ao ar, e eles geralmente não sabem à essa altura. Quando você assiste documentários, você vê no final que cada um é feito por uma empresa diferente. É meio bizarro a maneira como eles fazem isso.

Devocionais

Então, no próximo mês, você estará discursando em devocionais em Utah, Colorado, Arizona e Idaho, mas você está deixando sua agenda aberta para falar onde precisam de você. Como serão esses devocionais? 

É como qualquer outro serão: começa com uma oração, cantamos um hino, etc. Isso é algo que quero deixar claro. Eu não costumo abrir para perguntas porque as pessoas não vão gostar da minha resposta se me perguntarem sobre o casamento homoafetivo. 

Minha crença é que essa doutrina não vai mudar e eu escolho ficar do lado de nossos líderes.

Então, as pessoas enviam suas perguntas por e-mail para os líderes da estaca, e eles as analisam, e então o presidente da estaca me faz as perguntas.

Muitas das perguntas que recebo – e eu adoro respondê-las – são: 

“Qual é a sua opinião sobre a vida eterna e você não está preocupado em não ser selado e ter um cônjuge?”

Eu apenas digo: 

“Sabe de uma coisa? Essa é uma boa pergunta, e ninguém sabe realmente a resposta para isso. Só Deus sabe.”

Mas os devocionais são legais. As pessoas riem e nos divertimos. Às vezes eu choro! É emocionante porque quero que as pessoas saibam que não consigo me imaginar sem esse evangelho. Eu vivi 45 anos sem isso, e não consigo imaginar viver mais 45 sem ele. É algo realmente poderoso.

Esta é uma tradução do artigo escrito por Amy Keim e publicado originalmente no site thirdhour.org com o título “First This Gay Man Wanted to Protest the Church—Now He’s a Member”.

Relacionado:

“Élder Holland, eu sou gay” – Veja o que o apóstolo respondeu

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *