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A voz que ajudou um presidente de missão durante uma perigosa tempestade

O seguinte texto foi extraído do livro Fire of Faith, escrito pelo Élder John H. Groberg, que detalha as experiências dele e de sua família quando serviu como presidente de missão em Tonga.

Nunca irei me esquecer de uma viagem que fiz para visitar os missionários em Há’apai e Vava’u. O único barco disponível era o Pakeina, que é localmente conhecido como “a banheira.”

Parece que o barco foi construído para jogar os passageiros de um lado para o outro e sempre mantê-los desconfortáveis, exceto quando o tempo estava perfeito, o que raramente acontecia.

Nosso filho mais novo ainda era bebê e precisava de cuidados, mas mesmo assim minha esposa Jean queria viajar comigo, então ela conseguiu alguém para ficar com as nossas filhas mais velhas e decidiu encarar a ‘banheira.’

A viagem entre Ha’apai e Vava’u foi uma das piores que eu me lembro. Eu estava no único canto seguro do barco, que era pequeno recinto com duas tábuas estreitas contra uma parede e um pequeno trilho do outro lado.

Ficamos no convés o máximo possível porque o ar era pouco na pequena sala fechada. O barco saiu de Ha’apai no início da tarde e balançou sem piedade hora após hora. Eu nunca montei um touro, mas acho que sei como é.

A dificuldade daquela viagem era inacreditável.

O balanço do barco ficou tão violento que de vez em quando, éramos jogados contra a parede do outro lado do barco. Fiquei alerta, e simplesmente não conseguia ficar sentado em meu lugar.

Eu estava com medo de ser jogado para fora de meu assento, e bater contra minha esposa e o bebê.Por causa dos perigos e da lotação do barco, decidimos ficar no deck.

Subimos cuidadosamente para o deck, mas quando vi como as ondas do mar estavam agitadas, me preocupei com os perigos que corríamos por estar no deck do barco.

Se alguém caísse no mar, seria o fim. Parecia que todas as nossas opções eram ruins. Eu estava enjoado a tanto tempo que eu tinha certeza de que não havia mais nada para vomitar, mas meu estômago não parava de tentar. Foi uma noite longa e triste.

Durante a noite, olhei para minha esposa e meu filho e senti o trauma e a dor que eles estavam passando. Eu queria tirá-los daquela situação, mas não havia nada que eu pudesse fazer.

“Por que eu trouxe a Jean e o Gayle? Por que isso está acontecendo? Se o Salvador acalmou o mar da Galileia, por que não acalma esse?” E as perguntas eram intermináveis. Eu estava sofrendo, e de repente uma onda de autopiedade começou a entrar em minha mente.

No entanto, naquele momento, outra influência encheu a minha mente. Parecia que alguém estava falando comigo. Alguém próximo a mim. Alguém que me conhecia e me amava. Eu não sei quem era, mas eu sabia que era uma mulher de fé que me conhecia e me amava.

A influência dela encheu a minha mente de um jeito calmo e firme, e eu senti muito claramente a mensagem:

“Não reclame. Você não tem direito de reclamar. Você deve ser grato pela oportunidade de servir ao Senhor e ajudar a construir o reino Dele. Nenhum sacrifício é tão grande para Ele. Pense no que Ele fez por você. Não reclame. Nem pense em reclamar.”

Não quero ser exagerado, mas o contraste era tão grande que eu sabia que havia recebido ajuda de uma força externa. Fechei meus olhos e agradeci a Deus por Sua bondade e ajuda, e pedi pela proteção Dele para continuarmos nossa viagem.

Expressei minha gratidão por aquela pessoa que me influenciou a pensar positivo durante aquela noite assustadora.

Chegamos a Vava’u na manhã seguinte. Apesar de estarmos machucados, cheios de hematomas e estar com o estômago ruim, todos estávamos bem.

Os ancestrais que se sacrificaram pela Igreja

Anos mais tarde, eu estava lendo uma parte da história da minha família que minha irmã Mary Jane e outras pessoas tinham compilado, e cruzei com a história de conversão ao evangelho da minha tataravó, Elizabeth Susan Burnett Brunt.

Eu já havia ouvido alguns pedaços antes, mas nunca tinha dado tanta atenção. Agora, tenho muito interesse por sua história.

Ela nasceu em Londres e quando jovem viajou para a Nova Zelândia, onde se casou e teve vários filhos. Por volta dos anos de 1870, ela e seu esposo falaram com os missionários Santos dos Últimos Dias em Kaipoi, perto de Christchurch, e quase que imediatamente foi convertida ao evangelho.

Ela tinha um forte testemunho, mas seu esposo não era tão firme na fé. Como era de costume naquela época, os missionários os convidaram a se juntarem em “Sião” (o que naquele tempo era considerado ser no oeste dos Estados Unidos).

Então, ela e seu esposo começaram a se organizar para viajar da Nova Zelândia para Utah.

Os esforços deles tiveram muitas reviravoltas, mas do ponto de vista de Elizabeth, era muito simples: já que a fazenda não foi vendida rapidamente, e já que o entusiasmo de seu esposo de viajar para Utah não era muito grande, ela sabia que ou deveria viajar sozinha ou nunca chegaria a Sião.

Ela fez tudo o que pode para vender a fazenda, mas não teve sucesso. Então ela finalmente disse ao seu esposo que não importava o que acontecesse, dentro de um ano ela e os filhos iriam para Sião.

Depois desse ultimato, seu esposo se esforçou mais para se preparar, mas ele não estava muito entusiasmado. Exatamente um ano depois, aquela mulher determinada pegou seus quatro filhos, comprou as passagens de navio (via Sydney, Austrália) para São Francisco, de onde ela seguiria para Salt Lake City.

Ela deixou o marido para resolver os assuntos deles na Nova Zelândia e viajar para Sião quando ele pudesse.

Ponderei sobre a fé daquela jovem mãe de quatro filhos, viajando sozinhos da Nova Zelândia para o deserto de Sião em Utah, um lugar que ela nunca tinha visto (pelo menos, não com seus olhos físicos), para ficar com pessoas que ela não conhecia (pelo menos, que não podia se lembrar). Quem sabe as dificuldades, as provações, os desânimos pelos quais ela passou.

Uma experiência que ela mencionou em seu diário ilustra sua força e determinação. Quando o navio aportou em Sidney, o capitão fez ela e seu filhos ficarem em um tipo de acomodação na costa, enquanto eles carregavam o navio com feijões e outros grãos.

Esse processo levou vários dias. Ela registrou que uma noite acordou um pouco depois da meia noite com uma impressão muito forte de voltar para o navio imediatamente. Quando ela chegou, o capitão e a tripulação estava nos últimos preparos para o navio zarpar.

Ao levar seus filhos para o alojamento, ela ouviu o capitão reclamar e dizer “Pensei que tinha me livrado daquela mulher e de seus quatro filhos.” Nunca iremos saber as outras coisas que ela passou.

Obviamente, ela não teria conseguido se não tivesse uma fé extremamente forte, um esforço quase que super-humano e determinação.

Então, algo prendeu a minha atenção. Foi um breve comentário em um ponto de sua viagem de Sidney para São Francisco onde eles passaram por fortes tempestades no mar, e ela e alguns de seus filhos ficaram muito doentes.

Ao ler aquilo, pude visualizar toda aquela experiência em minha mente. Eu podia literalmente vê-los sendo jogados, tanto física como emocionalmente, naquele impiedoso e turbulento mar.

Ela estava sozinha e desencorajada e quase reclamou, mas ao orar ela se lembrou que era membro da verdadeira igreja de Deus e que ela estava a caminho de Sião.

Ela percebeu que nenhum problema era maior e nenhum sacrifício era muito grande contanto que ela atingisse a sua meta de chegar em Sião.

Ela prometeu para si mesma que nunca reclamaria, ou até mesmo pensaria em reclamar, e esperava que ninguém em sua posteridade reclamasse.

Eu estava sem palavras. Procurei um mapa mundial e tracei a provável rota de sua viagem. Ela deve ter passado quase no mesmo lugar e no mesmo oceano que eu, minha esposa e meu filho estávamos. Mas ela estava lá apenas algumas centenas de anos antes.

Eu estava tão cheio de gratidão pela fé daquela mulher, que eu não sabia o que fazer. Percebi que não havia nada a fazer, a não ser expressar minha gratidão e aumentar a minha determinação de nunca reclamar sobre nada que me fosse pedido para fazer pela causa do Senhor.

Expressei aqueles sentimentos sinceros em uma oração. E ao fazê-lo, senti novamente um pouco daquele amor e daquela paz que senti naquele turbulento oceano de Tonga, anos atrás.

Fonte: LDSLiving

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